Nas ruas de Porto Príncipe, a capital haitiana, um misto de incerteza e alívio divide os habitantes após a decisão das Nações Unidas de encerrar a missão de paz há 13 anos no país. Nessa quinta-feira (30), o Brasil encerra sua presença no Haiti após 13 anos liderando militarmente a Missão das Nações Unidas para Manutenção no Haiti (Minustah).

Para o Exército e o Ministério da Defesa brasileiro, a operação se encerra com sucesso. Mas para haitianos ouvidos pelo G1 na capital, há uma mistura de incerteza sobre o futuro, devido ao risco de grupos armados tentarem retomar o controle de áreas pacificadas e de ocorrerem incidentes políticos, e alívio, já que, para eles, é chegada a hora de o país andar com as próprias pernas.

Não se veem mais capacetes azuis da ONU nas ruas. Agora, são agentes de bonés pretos da Polícia Nacional Haitiana (PNH), com cerca de 15 mil homens e armados de fuzis, que estão no controle da situação.

A capital se divide em duas: a parte acima da base do Brasil e da Embaixada dos Estados Unidos, mais nobre, economicamente ativa, com parte dela com iluminação e ruas limpas e pavimentadas, envolvendo em especial os bairros de Delmas e Petion-Ville, e a baixa Porto Príncipe, próxima ao litoral, uma região mais violenta, com enormes quantidades de lixo nas ruas e onde parece que nada mudou nos últimos 10 anos.

A Minustah foi a quinta missão de paz da ONU no país caribenho. Iniciada em 2004, após um levante levar à renúncia do então presidente Jean Bertrand Aristides, teve início com uma operação multinacional coordenada por Estados Unidos e Canadá, que ficou dois meses até que o Brasil fosse politicamente e militarmente convocado para chefiar a segurança, mas sob égide da ONU. O Embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, que chefiou a presença brasileira em solo haitiano desde o início da missão de paz até 2008, concorda que “é hora de o Haiti andar com as próprias pernas”.

O comandante militar da operação internacional, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, entende que um dos principais legados da ONU para o Haiti foi a formação da Polícia Nacional. Pinheiro crê que a polícia está estruturalmente reestruturada e bem equipada, capaz de fazer frente caso grupos armados tentem retomar território nas favelas. “A ONU nem cogita a possibilidade de voltar. Porque se tivermos que voltar, foi porque falhamos”, admite.

“O ambiente seguro e estável que estamos deixando é o maior legado que deixamos. São 13 anos em que a paz trouxe empresas, emprego, renda e maior qualidade de vida. Sem isso certos negócios não teriam sido abertos aqui”, disse. O oficial entende que o país também se encontra em um momento de estabilidade política nunca antes visto. “Nunca vi o Haiti tão calmo, as coisas voltaram a funcionar após as eleições do novo presidente (em janeiro)”.

A Minustah foi a única operação da ONU comandada sempre por um único país -no caso, o Brasil. Entre 2005 e 2007, as tropas brasileiras realizaram operações para pacificar as três principais favelas de Porto Príncipe: Bel Air, Cité Militare e Cité Soleil, considerada o reduto de chiméres, grupos armados ligados a Aristide. Cité Soleil foi a última área entregue pelo Brasil ao Haiti: desde o inicio de julho a favela é totalmente responsabilidade da PNH.

Em abril deste ano, a ONU decidiu encerrar a missão, alegando que havia feito sua parte. As tropas deixam oficialmente o país até 15 de outubro. A partir de então, uma nova missão será criada, agora com 1275 policiais internacionais para apoiar, até 2021, o treinamento da PNH, que não é respeitada pelo povo.

“A economia só não avançou por falta de percepção das autoridades e da elite em aproveitar o momento e o que era oferecido”, diz o diplomata.

No âmbito político-diplomático, porém, considera-se que “não se pode afastar a possibilidade” de a ONU ter que voltar no futuro para o Haiti com tropas armadas de novo. Isso porque, segundo o embaixador, a situação econômica haitiana ainda é ruim, devido à diversidade demográfica concentrada na capital e a inexistência de recursos naturais.

Fonte: G1

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