1984: GEORGE ORWELL, UMA REFLEXÃO –
Outro dia, tomando um café e com o pensamento percorrendo fatos, lembranças, internet, livros e filmes acabei por lembrar desse autor e seu livro, bem como do filme nele baseado.
Relembrando o livro, que li, assim como o filme, que assisti, acabei tendo um curto circuito mental que me levou a elaborar o texto que agora escrevo.
Para os que ainda não leram o livro ou não tiveram a oportunidade de ver o filme, faço um brevíssimo resumo para que possam entender o que vai seguir.
O livro um romance lançado em 1949 se passa em um país fictício de regime totalitário ao extremo.
Alterando notícias, criando desinformação tudo ao gosto do partido único.
Todos são vigiados onde quer que estivessem e até mesmo ouvidos.
Câmaras espalhadas por todos os cantos, microfones escondidos nas residências, parques, locais públicos e, até mesmo a televisão, chamada pelo autor de teletela.
Uma televisão bidirecional, que transmitia imagens que interessavam ao partido e ao mesmo tempo captavam as imagens de sua audiência e no final quando terminava a programação deixava uma imagem de uma figura e um texto logo abaixo: ¨The Big Brother is watching you¨ (O grande irmão está observando você, em tradução livre).
A trama vai longe e não caberia aqui fazer o resumo completo.
Hoje com o advento da internet, IA (Inteligência Artificial) e os tão falados algoritmos estamos numa situação muito parecida.
Para aqueles que não estão muito familiarizados com o termo algoritmo, dou sua definição de forma simples: é uma sequência finita de passos para resolver certo problema ou atingir certo objetivo.
Outra definição um pouco mais abrangente é:uma sequência de raciocínios, instruções ou operações para atingir um objetivo.
E como estaríamos nós numa situação tão observada e controlada?
Hoje com o acesso amplo aos novos telefones celulares, que na verdade são minicomputadores, estamos em constante contato com a internet quer seja buscando informações, lendo notícias, conversando com pessoas através das tantas redes sociais, participando de cursos, palestras enfim, interagindo com o mundo que nos cerca.
O que não percebemos é que, nas diversas interações que temos com essa telinha, informações a respeito do usuário são captadas e muitas vezes compartilhadas com os diversos atores digitais.
É muito comum, lendo uma matéria de um jornal e, vendo um anuncio qualquer que nos chame a atenção, clicarmos nele para maiores detalhes.
No dia seguinte ao abrir a página de um jornal ou um site qualquer somos inundados de anúncios parecidos com aquele que interagimos.
O universo das informações coletadas vai se tornando dados (entradas) para estabelecer um caminho, baseado no perfil do usuário, para diversos objetivos como por exemplo, a oferta de investimentos, compra de uma roupa, viagens e etc.
São construídos algoritmos (vou chamar aqui de receita) complexos que levam em consideração todas as informações disponíveis sobre uma pessoa tais como: preferencias por viagens, tipo de trabalho, renda, roupas mais buscadas, grupos de que participa, locais que frequenta enfim quanto maior a quantidade de dados, mais complexo se torna o algoritmo e maior a probabilidade de que cheguemos ao êxito de negociar com uma dada pessoa.
E famosa teletela do livro 1984, na atualidade nada mais é que um simples celular.
Da mesma forma que no livro desconhece-se o Big Brother, também não sabemos quem tanto nos observa, podemos até arriscar, mas podemos ter mais de um irmão a nos observar.
Por mais que relutemos hoje somos escravos desse aparelho e da nossa tão necessária internet.
Por mais que tentemos nos resguardar sempre conseguem contornar nossas salvaguardas para obter as informações.
Chamo a atenção para o desfecho do livro que acaba levando o personagem principal, antes um lutador da resistência ao sistema de controle absoluto, a terminar por ser mais um adorador do Big Brother.
Não tem aqui qualquer conotação política sobre sistemas de governo ou seus governantes, ainda que possam utilizar-se de nossas informações, mas tem sim a ver com a suposta liberdade de escolha que temos.
Estaríamos nós fadados a ser conduzidos em nossas escolhas?
Os caminhos que percorremos seriam os mais adequados a nós?
As alternativas que a nós são propostas seriam as únicas?
Não sei se não caberia hoje um movimento de resistência a alguns procedimentos hoje já instalados.
Fica aqui o texto não sei se como um alerta ou se apenas mais uma reflexão.
Roberto Goyano – Engenheiro