2020 –
Vinte-vinte. Achei divertido este ano, 2020. Além disso, é o ano em que vou completar 90 anos, em maio próximo. Ou seja, praticamente já posso me considerar um nonagenário. Isso tudo me leva ao passado, aos meus “teens”, como se diz em inglês referindo-se aos adolescentes, mas os limitando a faixa dos quinze aos 20 anos.
Acho que sempre fui um cara responsável. Aos quinze anos, ainda terminando o ginásio, comecei a me preocupar que carreira fazer. Naquele tempo, existiam quatro carreiras básicas: Medicina, Odontologia, Engenharia e Direito. E, para qualquer delas, você tinha que sair de Natal, pois não tínhamos ainda universidade. As opções eram Recife, Bahia e Rio de Janeiro. Também se podia ir para Fortaleza. A maior prioridade era Recife – mais perto, mais conhecida, e onde já existia uma grande quantidade de norte-rio-grandenses, especialmente natalenses.
De saída, eliminei Medicina. Era, e continuando sendo, um cara comodista. E quando via médicos sendo chamados no meio da noite, com chuva e sem chuva, para atender doentes em suas casas, via que isso não era para mim. Não havia prontos socorros e o jeito era ir à casa do paciente. Portanto, eliminei esse curso logo de saída. Odontologia nunca entrou nas minhas cogitações. Sobravam Engenharia e Direito. Resolvi que talvez Engenharia fosse a melhor escolha. Achava que podia passar no vestibular.
Desde os nove anos, trabalhava na firma com meu pai, onde comecei varrendo o escritório e terminei assumindo funções de gerencia. Quanto terminei o cientifico, comecei a ver como alcançar meu objetivo. Mas sentia uma reação negativa por parte de meu pai, que não queria que eu deixasse a firma. Sem o apoio dele, não tinha como fazer. Continuei insistindo e finalmente ele concordou em me dar um certo apoio e resolvi ir para o Rio.
As viagens, naqueles tempos, eram complicadas. Para o Rio, duas opções, uma nova e cara, avião, e outra mais comum, mais demorada, mas mais confortável e mais barata, navio. Resolvi ir de navio, geralmente oito dias de viagem. O meu atrasou, coisa normal então, e cheguei com dez dias. Quando fui me inscrever para o vestibular, já estava encerrada a inscrição. Mas, fiquei no Rio esperando o do ano seguinte, arranjei um emprego, e me matriculei num curso de preparação.
Mas você planeja e o destino determina. Meu pai teve um problema com a pessoa que havia ficado no meu lugar, foi obrigado a dispensá-lo e insistiu na minha volta. Mandou uma passagem de avião, e deixei o Rio às cinco da manhã, chegando em Natal às cinco da tarde. Um DC-3 da Cruzeiro do Sul, meu primeiro voo, que achei o máximo.
Voltei a trabalhar com ele, mas a ideia de me formar continuou firme. Surgiu a possibilidade de ir para Maceió, onde a Faculdade de Direito, embora já federal, dava uma certa facilidade de frequência. Estavam lá estudando figuras como Aluísio Alves, Hélio Galvão, Ney Marinho. Resolvi fazer o vestibular. Sabia que passava fácil. Língua Estrangeira, História, Latim e Português. Eu já falava e escrevia inglês muito bem, tinha feito um curso bom de latim, história não me preocupava e português sabia que daria conta. Passei fácil no vestibular. A nota em inglês, 100, em latim, 90, em história, 80, mas os 70 em português levou a minha média lá para cima. A média naquele tempo era 70, para entrar na escola. Lembro dessas notas até hoje.
Fizeram vestibular comigo Fernando Gomes, Roberto Varela, Antônio Rodrigues, Moacyr Duarte, Altanir Borges. Nenhum deles precisa apresentação. Fiz o vestibular em 1949 e terminei o curso em 1954. Uma coisa me marcou na festa de formatura. Eu e Ione, já estava casado e ela gravida, e ninguém mais de minha família. Mas, o que me marcou e nunca esqueci, foi a presença do pai e da mãe de Roberto, que recebeu o diploma das mãos do pai, que o abraçou e lhe deu um deu um beijo.
Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN