24 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL DO DIREITO À VERDADE –

Vi, dia desses, postada no Facebook uma tirada do escritor e futurologista Alvin Toflin, que diz assim: “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender”. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Achei um tanto redundante, na medida em que a primeira ideia não me pareceu fechar bem com a segunda. Não resisti e resolvi cutucar o cão com vara curta. O resultado não seria o mesmo? Logo alguém retorquiu. Não, tem muita gente que sabe ler e escrever e não sabe interpretar um texto. São os analfabetos funcionais. E tem muita gente com titulação que não sabe a realidade, apenas baseada em fatos e não apenas na sua opinião. Fiquei pensando… Claro, analfabetos funcionais existem, sim, e em quantidades expressivas. E muitos com titulação acadêmica que não sabem ou se recusam interpretar a realidade política e social em que vivemos, também. Entretanto, a assertiva isolada do texto integral (se é que ele existe), não embasa bem tal concepção. Me pareceu um exercício de futurologia não adaptável à nossa realidade: um país subdesenvolvido com uma constituição prolixa e complexa e, pior, desrespeitada. Um país onde existe um mundo superficial, aparentemente saudável, e um outro subterrâneo e deplorável ao qual a maioria dos aquinhoados faz vista grossa. Claro está que o acesso à educação é um direito inalienável de cada cidadão. A capacidade de aprender, desaprender e reaprender, no entanto, esbarra em muitas variáveis que vão desde o despreparo de muitos professores até a impossibilidade de assimilação dos estudantes em função, inclusive, da precária alimentação (da fome) em tenra infância. A desnutrição fode o QI. Os médicos, pelo menos, sabem muito bem da base fisiológica a que me refiro. Tal retórica (seria retórica, mesmo?) poderá até funcionar nos países desenvolvidos. Não aqui. Estamos, ainda, e como em muitos outros países um pouquinho além da estaca zero no assunto educação e ensino. Pra eles , talvez sim. Pra nós, ainda , uma hipótese irreal e estapafúrdia… Livre pensar, só pensar. Millor Fernandes costumava falar assim.

 

 

 

 

José Delfino – Médico, poeta e músico
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