Nessa época do ano é comum o surgimento do mofo. Por onde você anda, ele se faz presente, afetando narizes e impregnando as roupas de manchas acinzentadas e bolorentas. O mofo aparece em razão da combinação do ar saturado de umidade, pela ocorrência da chuva, com o calor inerente ao clima tropical natalense. Para as donas de casa traz bastante preocupação. As crianças são logo acometidas de longas seções de espirros e o conseqüente aparecimento de corrimento nasal, gripes, garganta inflamada, etc, etc. Além de doentio, o mofo tem uma característica interessante: ele é anti-social. Gosta de sombras, de lugares não visitados, de enclaves pouco freqüentados, fechados, obscuros e inacessíveis. O mofo não gosta de locais abertos, claros, limpos, arejados, renovados. Sintomaticamente, a roupa clara não lhe é apetecível. Prefere os tecidos escuros, de pouco uso, entocados há bastante tempo.
Entretanto, o mofo não mata. Eu, pelo menos, nunca fui a um enterro de alguém que tenha sucumbido vítima do mofo. Ele enche o saco das donas de casa diante de roupas imprestáveis para o uso, impregna ambientes com seu odor característico, causa crises de sinusite, olhos lacrimejantes, nariz entupido, dor de cabeça, deixa você com um jeitão caído, entristecido, arrasa seu humor… Mas, matar não. Isso não ele não faz. Outro detalhe evidente no mofo é que ele não escolhe classes sociais. Sua ocorrência se registra de maneira universal, atingindo a todos, em todos os lugares. Logicamente que os mais abastados têm mais e melhores elementos para combatê-lo do que os menos favorecidos. Enfim, metaforicamente, há uma semelhança incrível entre este período de tempo – no qual o ar e os ambientes estão carregados de mofo – e o atual momento político vivido pelo Brasil.
Ambos não matam. Mas causam um prejuízo considerável. Semelhantemente ao mofo, a corrupção é um silencioso elemento nocivo às engrenagens políticas, administrativas e institucionais. A corrupção não gosta de ambientes abertos, da luz clara e ofuscante do debate de idéias. De ambientes visitados por gestores detentores dos princípios da honestidade, da seriedade, das boas práticas administrativas. Como o mofo, a corrupção impera em lugares obscuros, vedados ao exercício investigativo, auditorial, dos órgãos destinados ao seu combate. Da mesma forma que o mofo, a corrupção não resiste a uma boa investigação. Quando uma dona de casa abre um armário ou joga à luz do sol uma roupa impregnada de mofo, seu arsenal doentio desaparece rapidamente sob o poder antisséptico, regenerador e crestador dos raios solares.
Num processo inicial, o mofo e a corrupção não matam. Mas suas conseqüências, além de imprevisíveis, podem desaguar num processo de morte. Da congestão nasal dos primeiros momentos, o mofo pode progredir para distúrbios gravíssimos. Sem o tratamento adequado, seu desenvolvimento descontrolado, após se estabelecer no organismo humano, pode gerar até óbitos, pela ocorrência de distúrbios pulmonares e de outra natureza. Do mesmo modo, nas engrenagens públicas, a corrupção pode causar infecções tremendamente danosas e abalos políticos de enormes proporções. As donas de casa aprenderam a combater o mofo e têm contra ele armas bastante eficazes. Por seu turno, o organismo estatal precisa aprender a combater a corrupção e encontrar rapidamente remédios eficazes contra a sua proliferação. Senão, atchim, atchim, atchim… Cadê o descongestionante!!!?
Públio José – jornalista ([email protected])