Diógenes da Cunha Lima
“ Combati o bom combate, terminei minha carreira e guardei a fé”. Uma das última lições de São Paulo. Segunda Epistola de Timóteo, 4.7
Exemplo de fé para mim é o Padre Normando. Normando Pignataro Delgado foi meu colega, advogado, de pais amigos, amigo da vida toda, concursados ele e eu na época, não desejamos ser juízes. Espanta-me que ele tenha deixado a carreira jurídica, o amor mundano, para dar nova dimensão à sua vida pela virtude. Ele crê.
São Paulo, que exerceu o ofício de tapeceiro em Tarso, cidade centro intelectual, poderia ser definido como homem de luta, de fé e de ternura. Ele gostava de corridas e sabia que a vida corre para a morte, para a vida eterna.
A fé pertence, como a esperança e a caridade, ao grupo das virtudes teologais. É representada como uma mulher vestida de branco com um cinto dourado, coração pegando fogo na sua mão direita e na mão esquerda uma cruz. O branco é paz, o dourado a sua riqueza, o coração ardente é a benção.
Lembro de minha mãe, que tinha a fé monolítica, cantando com as suas colegas do Apostolado na Matriz de Nova Cruz: “Coração santo / tu reinarás / Tu, nosso encanto, / sempre serás /…”.
A fé esta baseada em um relacionamento de confiança, que não exige proclamação solene, mas quem busca o entendimento de Deus e Nele deposita o seu próprio destino.
O que guia os que têm fé, não é a argumentação, mas a verdade revelada. A fé faz entender. A crença firme independe de provas.
Muitas vezes, a verdade e a fé são reveladas de súbito. O povo se expressa bem para revelar um conhecimento de surpresa, no momento em que percebe, diz: quando dei fé…
A Igreja valoriza as virtudes cardeais: a justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança. Mais importante ainda são as virtudes que têm Deus como fundamento, as virtudes teologais, as que revelam as mais altas qualidades do homem, que são a fé, a esperança e a caridade.
Na Divina Comédia, Dante Alighieri (1265-1321) colocou a sua amada Beatriz como exemplo de fé. Ele próprio é um exemplo de fé em Deus e de fé política.
A fé é virtude que produz outras virtudes como a do cumprimento do dever, uma disposição, que se torna hábito, de praticar o bem e de compartilhar. A fé é contagiante como o amor.
A fé compartilhada faz amar, estabelece uma associação espiritual, íntima, com o rigor da palavra, fervorosa. Da mesma maneira que a fé de que não se compartilha faz desamor, muitas vezes traz ódio e guerra.
Os mártires são testemunhas da fé. Literalmente, dão a vida pela fé. Pagam com a vida a sua crença. São os exemplos maiores. Mas há também os exemplos menores que apenas consolam.
Há terrenas recompensas para os que acolhem a mensagem de Deus. Tudo é provisório para os que Dele duvidam.
O antônimo da fé não é a descrença. O lado oposto da fé é a dúvida.
Aliás, estamos convidados, por São Francisco, para a difícil tarefa: “Onde houver dúvida, que eu leve a fé.”
Diógenes da Cunha Lima – Presidente da Academia de Letras do RN
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