Mais de 81 mil índios estão em situação de vulnerabilidade crítica –ou seja, correm alto risco de sucumbir caso a pandemia de Covid-19 chegue às suas regiões, de acordo com um estudo de antropólogos e geógrafos liderados pela demógrafa Marta Azevedo, da Unicamp.
Os povos indígenas são especialmente suscetíveis a vírus porque as nações atuais foram contactadas majoritariamente no século 20 e tiveram pouco contato biológico com patógenos com os quais a população não-indígena já lidou.
A taxa de mortalidade por doenças como a gripe é muito maior entre eles, afirma Azevedo, ex-presidente da Funai, pesquisadora da Unicamp e uma das cinco pessoas que assinam o estudo.
Com um vírus mais agressivo, que é o caso do Sars-Cov-2, o resultado pode ter uma letalidade alta, segundo ela. Além disso, há uma dificuldade muito grande de acesso a itens que ajudam na prevenção da nova doença, como sabonete, máscara, álcool gel etc.
Os autores elaboraram um índice que mede qual é a vulnerabilidade de cada nação indígena de acordo com variáveis demográficas, como a estrutura etária, a divisão por gênero e a média de moradores por domicílio, assim como informações sobre as circunstâncias daquele povo –por exemplo, a distância até um hospital com uma unidade de terapia intensiva.
O índice varia de vulnerabilidade moderada, alta, intensa e crítica (veja abaixo como ele é composto).
A ideia é usar as informações desse índice para facilitar as ações de prevenção da pandemia.
Algumas culturas indígenas têm mais repertório para lidar com doenças. “Existe uma palavra para o conceito de epidemia em guarani, por exemplo, mas entre outros povos, não” exemplifica Azevedo.
O sistema de saúde indígena brasileiro é dividido nos chamados Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei). São regiões que têm características semelhantes –como, por exemplo, quanto um povo é versada em conceitos de epidemias– para ajudar a gerenciar uma doença.
Dos 34 Dseis, há seis que têm o mais alto grau de vulnerabilidade, todas na região amazônica. Veja quais são eles e o tamanho de suas populações:
Os antropólogos consideram que há um risco significativo de haver uma mortandade porque, no passado, houve casos de sarampo e mesmo gripes que fizeram um grande número de vítimas entre as nações indígenas, segundo Azevedo.
Há preocupação com a possibilidade de que a doença, que tem taxas de fatalidade mais alta entre os mais velhos, interrompa repentinamente culturas inteiras. Entre esses povos indígenas, o conhecimento é passado verbalmente às novas gerações, e sem os membros mais velhos das tribos, uma parte significativa do conhecimento acumulado deixaria de ser transmitida.
“Não sabemos exatamente o que vai acontecer, mas nós, indigenistas experimentados, já vimos epidemias em aldeias, e as pessoas morrem com muita facilidade. Achamos que a letalidade pode ser muito maior do que entre a população não-indígena e que pode ser uma carnificina.”
Há um receio em relação a um surto entre os povos ianomâmis, em Roraima. Eles são mais isolados que os demais, mas há muito contato entre eles e garimpeiros ilegais, com quem trocam comida e outros bens.
A recomendação é facilitar o acesso aos itens de proteção, como máscaras e sabão, e treinar uma parte da população para que eles mesmos possam educar e formar os outros índios para prevenir a Covid-19. Isso é preciso ser feito com cuidado, para que não haja contágio.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que tem feito ações de para orientar as comunidades indígenas, gestores e colaboradores desde janeiro, antes mesmo de a doença ser decretada uma pandemia.
A detecção e correção de possíveis problemas e a realização de novas ações têm sido frequentes, segundo a nota.
“Todos os povos indígenas recebem a mesma atenção por parte do Ministério da Saúde, não há um povo que preocupe mais do que outro”, afirma a pasta.
O ministério também comprou 10,4 mil testes rápidos, 80,6 mil luvas, 8,9 mil máscaras, 126 mil litros de álcool em gel e 111 óculos de proteção.
Para construir o índice de vulnerabilidade, os pesquisadores levaram em conta as seguintes variáveis:
Os pesquisadores atribuíram um peso a cada um desses itens para construir o índice, e determinaram padrões para o que seria um risco menor (o moderado) até o maior de vulnerabilidade da população, o crítico.
Fonte: G1
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