A ABRIDEIRA –
No Brasil, a aguardente de cana, posteriormente denominada “cachaça”, está ligada à cultura popular, assim como o samba e o futebol. Começou como bebida dos escravos e de pessoas pobres. Com a evolução dos costumes, os ricos descobriram a cachaça e o preconceito que havia contra ela desapareceu. Atualmente, a cachaça está presente nos melhores restaurantes nordestinos e é considerada a “Abrideira” do apetite, principalmente quando se trata de uma feijoada…
A cachaça nasceu da indústria do açúcar. Tornou-se bebida nacional e está para o Brasil, como o Rum está para a Ilha de Cuba. O Tabaco, soberano em Cuba, e abundante no Brasil, não conseguiu superar a cachaça, na influência cultural.
Os negros e ameríndios gostavam muito da aguardente destilada do mel de açúcar. O nome “cachaça, termo do Brasil” surgiu em 1873, no Tesouro da Língua Portuguesa, de Domingos Vieira,
A cachaça tornou-se a mais popular bebida brasileira. Foi a primeira bebida destilada pelo português, imitando a técnica espanhola usada na América. Para a cachaça, convergiram todos os sumos das frutas nativas ou aclimatadas no Brasil, resultando na série inacabável de “batidas”.
Como toda bebida alcoólica, a cachaça, tomada com moderação, não faz mal a ninguém. No entanto, quando o hábito de beber se torna um vício, qualquer bebida passa a ser prejudicial à saúde.
As bebedeiras tem sido responsáveis por casos hilários.
Certa vez, após uma festa de Padroeira numa cidade do interior, Josenildo e mais dois colegas “biriteiros” pegaram a estrada para voltar para Caraúbas, num “Celta” antigo.
No primeiro boteco que eles avistaram, pararam o carro para ir ao banheiro e aproveitaram para beber umas “bicadas” de cachaça. Logo continuaram a viagem e menos de duas horas depois, avistaram outro boteco. O mesmo ritual. Pararam, foram ao banheiro e aproveitaram para tomar outra “chamada”. Pegaram a estrada novamente. Quem estava dirigindo era Josenildo, o dono do Celta. Nessa pisada, já viajavam ha mais de três horas, e ainda havia muita estrada pela frente.
Uma hora depois, avistaram outro boteco e pararam novamente, para as mesmas finalidades.
Prosseguiram viagem novamente, até que avistaram mais um boteco. Quando Josenildo estava estacionando, notou que o possível dono estava fechando as portas. Os três homens desceram do carro, e só por muita insistência o proprietário os atendeu. Disse que serviria apenas uma dose a cada um, pois estava de saída. Iria ao velório de um fazendeiro da região, Seu Brás Fonseca, de quem era compadre..Josenildo disse que o falecido era seu padrinho de Crisma e por isso eles também iriam ao velório. Os três viajantes do Corsa acompanharam o fusquinha do dono do boteco.
Chegando ao casarão da fazenda, dirigiram-se à enorme sala, onde estava ocorrendo o velório. Josenildo, já bastante melado, não suportou olhar para o morto e chorou compulsivamente, chegando a beijar-lhe a testa. Disse que aquele homem era seu padrinho de Crisma e para ele representava o seu segundo pai..Disse que naquele triste momento, sentia-se órfão de pai pela segunda vez. Seu pai havia morrido, há dois anos.
Os três filhos do “de cujos” cumprimentaram Josenildo e ele explicou que morava em São Paulo há alguns anos, e tinha vindo de férias, visitar a mãe e a irmã.
Na realidade, os três amigos nunca tinham visto o falecido. Mesmo assim, Josenildo fez um discurso, exaltando as boas qualidades do “seu padrinho”, e lamentando sua triste e inesperada partida.
Os três impostores passaram a noite toda no velório, comendo do bom e do melhor, e bebendo cachaça à noite toda, como era costume no interior.
Violante Pimentel – Escritora
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