A ABSTINÊNCIA –

Tomaz, 58 anos, contador e boêmio de carteirinha, só chegava em casa depois da meia noite. Há anos, tinha o hábito de, todas as noites, perambular por vários bares, onde encontrava os amigos de copo e de farra.

Rita, sua esposa, ao vê-lo chegar aos tombos, perguntava de onde ele estava vindo, e a resposta grosseira era sempre a mesma:

– De um cabaré!!!

A mulher sofria muito com isso e se limitava a chorar.

De repente, os filhos fizeram um apelo ao pai, para que mudasse de vida. Fizeram isso em solidariedade à mãe, que não estava bem de saúde, sofrendo com problemas de hipertensão e diabetes.

Preocupado, Tomaz prometeu aos filhos e à mulher, que, daquele dia em diante, seria mais presente em casa.

Esse sacrifício, ele jurou para si mesmo que faria, para evitar que o estado de saúde da esposa evoluísse e a levasse a óbito. Ele não se perdoaria, se isso acontecesse.

Entretanto, Tomaz nunca imaginou que fosse tão difícil cumprir esse propósito de se afastar dos “bares e esquinas da vida.” Não sabia onde buscar força, para se controlar e abandonar a vida de boemia, junto aos amigos.

Mas, agora, que a mulher se encontrava doente, ele jurou mudar de vida, prometendo deixar a bebida e os bares em segundo plano. Queria começar vida nova, como bom chefe de família.

Quis provar a si mesmo que era um homem de responsabilidade. E resolveu fazer a “prova de fogo”, na sua primeira noite sem bebedeira.

Jantou em casa e logo saiu para dar uma volta. Passou devagar pela frente do seu botequim preferido e, de longe, cumprimentou os colegas de copo.

Satisfeito por ter resistido ao primeiro teste, passou pelo segundo botequim, terceiro, quarto, quinto, e assim por vários outros, resistindo à tentação de entrar.

Voltou para casa, satisfeito e falando consigo mesmo:

“Nunca pensei que o senhor tivesse tanta força de vontade, Seu Tomaz!!!”
No dia seguinte, acordou irritado com tudo e com todos. Era a crise de abstinência.

Depois do jantar, saiu novamente, para aliviar a cabeça. Passou pelos bares, salivando de vontade de beber, mas se controlou. Quando voltava para casa, sentiu-se satisfeito por não ter bebido. De repente, sofreu uma tentação, quase diabólica, e resolveu voltar, falando sozinho:

– Você merece um troféu, Tomaz! Vou lhe pagar um whisky! E entrou num botequim, chegando em casa, nessa noite, ainda mais bêbado do que nas noites anteriores.

A decepção de Rita foi grande.

Tomaz não conseguiu cumprir a promessa feita aos filhos e à mulher.

Continuou bebendo todos os dias, até perder a saúde.

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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