A ALQUIMIA DAS ALMAS*
Há algum tempo percebi que as minhas apetências por cheiros e gostos, gradativamente, sofriam mutações. Dos meus sentidos emanavam odores e sabores nunca sentidos. Assoberbei-me, compilando pensamentos alheios à minha módica compreensão.
Não me atrevi mensurar tamanho desatino. Bem soube que os sentidos estavam mais sensíveis, mais apurados em suas essências. Selecionando as melhores fragrâncias e os melhores sabores.
Exultados, os aromas e gostos, tomaram proporções consideráveis nos arquivos da minha memória. Alojados nos compartimentos das lembranças e saudades. Nas gavetas das essências que tocam a alma.
Aniquilando qualquer vestígio de turpitude do pensar. Deveras a pertinência em alocar cada sentido em seus devidos arquivos, sem comprometer a candura das mutações sofridas. Essências aromáticas e saborosas, quiçá afrodisíacas. Amadeiradas, cítricas, florais…”Amorais”
Cheiros e gostos afrodisíacos que me transportavam para cenários indizíveis…
*Texto da Antologia Exercícios Literários (Café&Poesia) página 64, organização de Raí Lopes, editado pela Sarau das Letras-2021.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]