A ARAPUCA –
Há viciados em bar, que não se conformam em voltar para casa, no fim da noite, quando o proprietário começa a fechar as portas e os garçons começam a recolher mesas e cadeiras. Por eles, continuariam fazendo o exercício de levantamento de copos, até o dia amanhecer. Alguns fazem de conta que não estão vendo o dono fechando as portas e os garçons arrumando tudo. O expediente etílico, para eles, deveria ser do tipo “24 horas”.
Continuam sentados na mesma mesa, às vezes cochilando, mas sem vontade de deixar o bar. Esperam que a vassoura passe perto dos seus pés, para poderem se levantar. São os chamados alcoólicos inveterados, que esquecem que tem família em casa, ou que são separados e moram sozinhos. Saem do bar, reclamando que a cidade é atrasada e não tem vida noturna.
Dois amigos boêmios, corretores de imóveis, saíram de um bar, em Natal, quase de madrugada, e se dirigiram a uma “boate”, à procura de companhia feminina para o fim da noite.
Quando lá chegaram, o mais afoito simpatizou logo com uma bonita morena e subiu para o quarto com ela. No quarto, a mulher, rapidamente, uniformizou-se para a prestação do serviço, ou seja, tirou tudo. Enquanto isso, o homem, embriagado , sentou-se na cama e começou a desabotoar a calça e a camisa. A mulher, querendo se livrar logo daquele freguês, mostrou-se impaciente e pediu para ele se apressar.
Em tom autoritário e grosseiro, disse-lhe que, na cama. havia um jornal para ele colocar os pés. Por isso, não precisaria tirar os sapatos.
O homem se irritou, sentindo-se maltratado e humilhado por aquela mulher, cuja profissão lhe exigia respeito e consideração aos clientes.
De repente, o boêmio sentiu-se sóbrio e, com toda dignidade, falou:
-Basta! Não quero mais nada com a senhora!
Vestiu a roupa, rapidamente, e desceu as escadas.
Atrás dele, a mulher gritou:
-Tem que me pagar! Ocupou meu tempo!!!
E ele respondeu:
-Pagar o que, se nem cheguei perto de você?!!! Para tudo nesta vida, é preciso ter classe, inclusive na profissão que você exerce.
Nessas alturas, apareceu um “leão- de -chácara” para defender a mulher. Ao ouvir o relato do cliente, viu que ele tinha razão.
Violante Pimentel – Escritora