A BRISA E O TEMPO QUE PASSA –

Acordo cheio de disposição para o café prensado a francesa, gastronomia matinal e avanço energizado para usufruir dos cantos e dos recantos do meu encanto Ponta Negra.

Ao começar a fotografar, curtir D’yer Mak’er do Led Zeppelin e caminhar, lembrei que é um feriado da Proclamação da República em 1889, portanto 129 anos atrás.

Com a antiguidade da data no juízo comecei a viajar nas figuras que observo há anos na orla.
Todas envelhecidas pelo tempo cronológico e pelo sol. A inocente brisa que sopra, refrescando o juízo, é a mais fiel testemunha da implacabilidade de Chronos, que querendo eternidade, só torna patente nossa temporalidade.

E indo fui vendo Elvis com marcas bem profundas, ainda tentando vender pacotes turísticos, voz mais cansada, rosto enrugado, como o Negão, paradigmático confeiteiro dos cines Rex, Nordeste, Panorama e Rio Grande, dos colégios, festas, Praia dos Artistas e até do Chaplin.

Além dos seres que o tempo castiga fisicamente na passeata inexorável das horas, as paredes, casas, obras públicas, denunciam nas inconfidências da brisa fofoqueira, suas fragilidades, suas necessidades não resolvidas, entrâncias não preenchidas, desvalos não reparados, pinturas não renovadas, tornando públicas e notórias necessidades prementes, consertos urgentes, reuso emergente.

E assim segui, confabulando comigo mesmo sobre a perenidade desse ar que passa e perpassa o tempo todo e a tudo alisa e leva um pouco.

E nesse perder permanente, eternamente, como lei imutável do cosmos insondável, seguimos, tentando com a ciência freiar o que avança, postergar o que tem que ser, receosos do porvir, querendo agregar excelência ao existir, sempre esperançosos de gostar mais, melhorar, amar o que é.

E assim nesse labirinto de pensares, chega a hora de mergulhar, permutar o ar que me toca, pela água que me abarca. Amo Ponta Negra, viver, me sinto novo, velho, cheio de brisa, aguado, inspirado, um peixe dentro da água, desse mar, que também me pertence.

Sou brisa, mar, tempo que é, que foi, que serei…

Flávio Rezende – Jornalista 
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