A COMADRE QUASE CEM –
A “Peixada da Comadre” é marco nascente da gastronomia potiguar. A atual administração, sob o comando principal do bisneto Daniel, cuja gestão contará com outros parentes gestores, programa a reinvenção do estabelecimento com festividades comemorativas e realizações culturais, permanecendo a tradicional comida boa.
Há noventa anos, a “Comadre” servia caldos de peixe no Canto do Mangue. Sonhava estabelecer-se com uma peixada. Pediu quatro contos de réis emprestado a Dinarte Mariz. A casa foi comprada e apropriada à função, sob orientação generosa do engenheiro Malef Victório de Carvalho. Economizando, dois anos depois, a nova empresária foi liquidar o empréstimo. Dinarte recusou: “O que que eu vou fazer com quatro contos? O dinheiro é seu, minha comadre”.
O cardápio tem sido o mesmo durante todo esse tempo. A cada dia é renovado o peixe, tirado do mar. São sempre estes: sirigado, garoupa, bicuda, galo do alto e arabaiana, cozidos ou fritos. O camarão potiguar é servido frito na manteiga ou em omelete. Verduras e legumes têm tempero simples, especial. Acompanham o ouro do pirão, ou o pirão coberto (de pescador).
A empresa se mantém pela participação da família. Os irmãos ajudam. Na cozinha, Laíse e Lúcia trabalham com verduras e tempero verde. Servem de apoio Heriberto e Gilberto, saladeiros. No salão, os prestimosos garçons Davi, Claudio e Jerônimo.
A “Peixada da Comadre” identifica Natal. Tem clientela de notáveis e visitantes ilustres. Por exemplo, Luis da Câmara Cascudo (grande incentivador). São lembradas a frequência do presidente Café Filho, governadores do Estado, senadores, deputados, dos juristas Seabra Fagundes, Carvalho Santos, Neemias Gueiros, dos ministros Moreira Alves e Francisco Rezek. Muitos artistas, entre eles, Fagner e Eva Wilma. Líderes políticos do interior não dispensavam o almoço na “Peixada da Comadre” quando vinham a Natal. Desde o chefe João Medeiros, de Jardim de Angicos, a Florêncio Luciano, de Parelhas.
A “Comadre” passou por crises financeiras até instalar-se definitivamente na Praia do Meio, Ponta do Morcego, onde é embalada pelo quebrar das ondas nos arrecifes, com bela visão do mar. Nas dificuldades, o grupo familiar contou com o apoio de empresários, amigos e admiradores. Destaco Issa Hazbun, Luiz Cirne e José Lucena.
O entusiasmado Daniel explica a fortaleza e o êxito da “Peixada da Comadre”: “O principal tempero é o afeto”.
Da programação para a redesenhada “Peixada”, consta uma cadeira do “Imortal da Comadre”. Com nome e imagem das personalidades que ajudaram com afeto, estímulo e presença constante. Fixado na parede, sob foco, o livro essencial de Luis da Câmara Cascudo: “História da Alimentação no Brasil”.
Vamos continuar provando o sabor do afeto da quase centenária “Peixada da Comadre”.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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