A CORJA –
Eis um texto do professor Doutor Luiz Flávio Gomes, adiante referenciado, para reflexão atual.
“Parafraseando o maior orador da Roma antiga, Marco Túlio Cícero, que foi autor do livro Catilinárias (série de quatro discursos impregnantes, contra o senador Lúcio Sérgio Catilina, um corrupto falido e sabotador da ordem por seus crimes e vícios), no ano de 63 a. C., quando era cônsul, cabe proclamar:
Cópia de panfleto lisboeta, editado por Martins dos Santos, em 25.4.1924, intitulado A Corja.
A editora A Corja estava localizada na Travessa das Mercês-31- Lisboa, que veiculava panfleto semanal de crítica literária, no primeiro quartel do século XX.
Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?
(Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?)
Até quando os canalhas da República Velhaca (1985-2015) abusarão da nossa paciência enquanto são apurados os seus ignominiosos crimes (seja nas Comissões de Ética, seja na Lava Jato)?
Quam diu etiam furor iste tuus eludet?
(Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?)
Por quanto tempo o Ministério Público, a Polícia Federal, os Juízes e o povo suportarão as astuciosas manobras jurídicas protelatórias da escória da República Velhaca, bem como as loucuras que zombam persistentemente de todos nós?
Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?
(A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?)
Até quando nossa nação continuará sendo palco de um clube mafioso cleptocrata que todos os dias nos rouba, privando-nos até mesmo de minguadas esperanças futuras? Até quando vamos permitir que a desenfreada audácia dos “bandoleiros da República” (Velhaca) continue nos importunando, nos indignando e nos surrupiando impunemente à luz do dia?
Nihilne te nocturnum praesidium Palatii, nihil urbis vigiliae, nihil timor populi, nihil concursus bonorum omnium, nihil hic munitissimus habendi senatus locus, nihil horum ora vultusque moverunt?
Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem o temor do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Nem as provas cabais, sobretudo do Ministério Público da Suíça, nem suas contas secretas (não declaradas ao Fisco nem à Justiça Eleitoral), nem as delações dos seus companheiros do clube mafioso cleptocrata, nem suas astutas tentativas de movimentação das contas clandestinas, para impedir ou obstruir a investigação criminal na Lava Jato, nem suas indecorosas manobras para adiamentos infinitos dos julgamentos na Comissão de Ética, nem suas cabeludas mentiras, nem seus conluios protetivos com comparsas criminosos da cleptocracia, nem o ódio e o nojo do povo, nada disso conseguiu perturbar-te?
Patere tua consilia non sentis?
(Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?)
Não percebem, crápulas da direita ou da esquerda, integrantes da República Velhaca (1985-2015) bem posicionados dentro do Estado e do Mercado cartelizado, que seus crimes já descobertos estão aniquilando a maior parte do povo brasileiro que agoniza em virtude de tanta fome e miséria, tanta dor e tamanho sofrimento, gerado pela improvisação das barragens que se rompem, das políticas públicas que não previnem doenças nem mosquitos, das anencefalias que atingem prioritariamente os desfavorecidos, das inundações ou secas que afligem as populações, da inflação que aniquila os pobres, da violência que vergasta, do desgoverno que maltrata todos?
Constrictam omnium horum scientia teneri coniurationem tuam non vides?
(Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?)
Não reconhecem que suas mentiras e conspirações, que seus conluios licitatórios e subornos, estão agudizando as crises política, econômica, social e ética que estamos experimentando conjuntamente?
Por que não enxergam o caos social e econômico que já forjaram nem o colapso iminente que é a antessala do abismo?
Quid proxima, quid superiore nocte egeris, ubi fueris, quos convocaveris, quid consilii ceperis, quem nostrum ignorare arbitraris? O tempora, o mores!
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!
Que pensam esses escroques da República Velhaca, que cotidianamente enojam a nação com suas discussões estéreis e agressivas? Que tipo de ética destilam diuturnamente em seus afazeres?
Onde aprenderam que a função do político é disputar o poder pelo poder e o dinheiro pelo dinheiro?
Não leram José Mujica que diz que “quem quer ficar rico não pode entrar na política”? Olhem a qualidade das leis que produzem assim como os problemas intermináveis que estão gerando, muitas delas “compradas” pelos setores cafajestes do Mercado de compadres! Até quando ficarão impunes suas “emendas” e “jabutis” encomendados e regados a dólares? Até quando perdurará a impunidade dos partidos financiados com o dinheiro da corrupção? Que tipo de sorte possuem os canalhas do Estado e do Mercado que nos ludibriam diacrônica e sincronicamente sem serem importunados em seus cargos, especialmente os de comando, nem em suas riquezas ilícitas? Até quando os ensaboados e vaselinados continuarão se esguiando por entre os meandros dos poderes e dos escombros normativos em clara afronta à Justiça e ao povo? De onde saíram esses monstros, prodígios da perversidade, da astúcia e da maldade?”.
Texto do talentoso Professor Luiz Flávio Gomes
Luiz Flávio Gomes, Criador do movimento de combate a corrupção, “Quero um Brasil Ético”. Professor, Jurista, Deputado Federal por São Paulo e Membro da CCJ. Foi Delegado, Promotor de Justiça e Juiz de Direito, exerceu também a advocacia. Fundou a Rede LFG, democratizando o ensino jurídico no Brasil. Diretor-presidente do Instituto de Mediação Luiz Flávio Gomes. Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri. Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Publicou mais de 60 livros, sendo o seu mais recente “O Jogo Sujo da Corrupção”. Foi comentarista do Jornal da Cultura. Escreve para sites, jornais e revistas sobre temas da atualidade, especialmente sobre questões sociais e políticas, e seus desdobramentos
jurídicos.
José Carlos Gentili – Membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Internacional de Cultura Portuguesa
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