A COSTELA DE ADÃO –
Vamos extrair da Bíblia um maravilhoso miniconto: “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu, e tomou uma das costelas, e cerrou carne em seu lugar.” (Gênesis 2:21). A imaginação criadora de Moisés nos ensina o começo da vida da mulher. O texto transmite o máximo com o mínimo de palavras.
Mostra a incompletude do homem, dos seres humanos, por conseguinte, a humana necessidade do outro. A divina escolha da costela coloca a mulher ao lado do homem, não acima, nem abaixo, assim conviria viver. Muitas outras conclusões, inclusive bem-humoradas. O Criador colocou Adão em sono profundo. Os profissionais da medicina poderiam dizer que Deus foi o primeiro anestesista.
Os doze pares de costelas, como a mulher, protegem também o coração do homem. Enquanto a costela é curva, a beleza da mulher é curvilínea. O genial arquiteto Oscar Niemeyer assim concebe: “O que me atrai é a curva livre e sensual. Curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher amada. De curvas é feito todo o Universo.” A linha reta masculina não tem graça, já a sua natural parceira constitui a metade mais bonita da humanidade.
As pessoas reclamam de dor na espinhela caída, ponta do esterno. Costela designa, com tom levemente satírico e humorístico, a outra, a amante fora do casamento. Caíram em desuso outras qualificações: cortesãs, concubinas, barregãs. Como enaltecimento, os maridos dizem esposa, dona, minha senhora, patroa. Mostrando a igualdade de gênero consorte. E, para ambos os gêneros, cônjuge.
No teto da Capela Sistina do Vaticano, Michelangelo pintou Adão nu, musculoso e belo. O seu indicador está próximo ao dedo de Deus, com o Qual ele tem simetria. A mulher não era a motivação amorosa do artista. Ele pintou Eva metade serpente metade mulher.
Na era vitoriana, os espartilhos faziam as mulheres sofrer para que tivessem cintura fina. Por vezes, causavam-lhes danos irreparáveis na caixa toráxica.
A nova tecnologia médica descobriu a importância das células-tronco, que estão, inclusive, dentro das costelas. Ela dá origem às células e tecidos do corpo humano. Semelhante à mulher, são autorrenováveis e têm o poder de transformação.
O mundo inteiro ama a capa de costela, a mais saborosa das carnes. Todavia, os senhores de escravos, por idiotice, comiam apenas filé e outras carnes macias. Destinavam aos dominados o resto, as costelas.
Os músicos Ney e Nando fazem duplo sentido com o tema deste artigo: Se a mulher é mesmo feita de costela, agradeço a graça todo dia com o que a gente ganha.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN