A DANÇA DAS CONTRADIÇÕES… –
Em meio ao palco da vida, somos todos personagens imersos em uma complexa coreografia de contradições. Como atores em constante transformação, interpretamos papéis que se entrelaçam, ora buscando harmonia, ora confrontando-nos com a discordância. É nesse jogo de dualidades que reside a essência da nossa existência, um paradoxo pulsante que nos impulsiona a buscar sentido e equilíbrio no caos.
De um lado, ansiamos por estabilidade e segurança, como um navio em busca de um porto seguro em meio às tempestades da vida. Criamos rotinas, estabelecemos metas e traçamos planos, buscando refúgio na previsibilidade e no controle. Mas, como um raio que rasga o céu em meio à calmaria, a incerteza surge, desafiando nossas certezas e lançando-nos em um mar de mudanças. É neste momento que nos damos conta da fragilidade de nossas estruturas e da necessidade de nos adaptarmos ao novo, abraçando a fluidez da existência.
Buscamos o conforto familiar, do aconchego do lar, da companhia das pessoas que amamos. Encontramos paz na simplicidade dos momentos cotidianos, na rotina que nos oferece um senso de pertencimento e identidade. Mas, como um pássaro aprisionado em gaiola, a alma anseia por novos horizontes, por experiências que expandam nosso ser e alimentem nossa sede de conhecimento. É nesse desejo de explorar o desconhecido que nos aventuramos por caminhos incertos, em busca de novos sabores, novas culturas e novos aprendizados.
Ansiamos por controlar o nosso destino, por traçar o nosso próprio caminho e ditar as regras do jogo. Criamos planos, fazemos escolhas e acreditamos que somos os senhores de nossas vidas. Mas, como um jogador de xadrez frente ao imponderável, a vida nos confronta com a insegurança do futuro, com obstáculos inesperados e reviravoltas que desafiam nossa capacidade de previsão. É neste momento que nos damos conta da humildade da nossa condição humana, da pequenez diante da grandiosidade do universo e da necessidade de aceitarmos o que está além do nosso controle.
A existência nos presenteia com momentos de pura felicidade, com sorrisos que iluminam nossos rostos e aquecem nossos corações. É na companhia de quem amamos, na contemplação da beleza da natureza e na realização de nossos sonhos que experimentamos a plenitude da vida. Mas, como a sombra que acompanha a luz, a dor e o sofrimento também fazem parte da nossa jornada. Enfrentamos perdas, experimentamos decepções e lutamos contra as dificuldades que a vida nos impõe. É na fraqueza, quando nos sentimos fragilizados e impotentes, que aprendemos com as adversidades e crescemos na dor. Descobrimos a força que reside em nosso interior, a capacidade de superarmos obstáculos e de nos reerguermos após cada queda.
Ao longo da nossa jornada, percebemos que a união com o outro pode ser a chave para a felicidade e a plenitude. O amor nos aproxima, nos fortalece e nos oferece um porto seguro em meio às tempestades da vida. Compartilhamos alegrias e tristezas, oferecemos apoio e colo, construindo laços que nos conectam à humanidade e nos fazem sentir parte de algo maior. Mas, como a moeda que tem dois lados, o amor também nos deixa vulneráveis e dependentes. Abrimos nosso coração e nos tornamos suscetíveis à dor da perda, do abandono e da traição. É nesse risco que reside a beleza e a intensidade do amor, na entrega total e na busca pela conexão profunda com o outro.
A liberdade nos oferece um leque infinito de possibilidades, nos convida a explorar o mundo e a perseguir nossos sonhos. Somos livres para fazer nossas próprias escolhas, para traçarmos nossos próprios caminhos e para vivermos nossas vidas da maneira que desejamos. Mas, com essa liberdade vem também a responsabilidade de tomarmos decisões, de assumirmos as consequências de nossas ações e de lidarmos com os desafios que surgem em nosso caminho. É nesse exercício da liberdade que nos tornamos responsáveis por nossa própria felicidade e pelo nosso próprio destino.
Em suma, a vida é um paradoxo pulsante, uma dança complexa de contradições que nos convida a buscarmos equilíbrio e significado em meio ao caos. É na aceitação dessa dualidade que encontramos a beleza da existência, a oportunidade de aprendermos, de crescermos e de nos transformarmos a cada dia. Que possamos abraçar as contradições da vida com coragem, sabedoria e compaixão, reconhecendo que é na multiplicidade que reside a riqueza da nossa experiência humana.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros: As esquinas da minha existência e As Flávias que Habitam em Mim, cronicasflaviaarruda@gmail.com
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