A DIFÍCIL CONVIVÊNCIA HUMANA – Violante Pimentel

A DIFÍCIL CONVIVÊNCIA HUMANA –
A grande cantora Dalva de Oliveira (1917 – 1972), nascida em Rio Claro (SP),  mudou-se com a família, em 1935, para o Rio de Janeiro (RJ), em busca de uma vida melhor.
Passou a frequentar o Cine Pátria, onde conheceu o exímio compositor e cantor Herivelto Martins (1912 – 1992). Passou a cantar com ele em dueto e logo os dois se juntaram a Nilo Chagas e formaram o Trio de Ouro.
A vasta discografia de Herivelto Martins inclui as canções “Ave Maria no Morro”, “Caminhemos”, “Vingança”, “Atiraste uma Pedra” , dentre outros inúmeros sucessos que se eternizaram  no cancioneiro brasileiro.
Dalva de Oliveira e Herivelto Martins começaram a namorar e, um ano depois, alugaram uma casa e foram morar juntos. Dalva era solteira e Herivelto Martins ainda estava casado no civil com outra mulher. A união dos dois só se consolidou oficialmente em 1937, quando saiu o desquite dele.
A união gerou dois filhos: Os cantores Peri Oliveira Martins (Pery Ribeiro) e Ubiratan Oliveira Martins.
Em 1947, as constantes brigas, traições e crises violentas de ciúme e humilhações por parte de Herivelto, levaram o casamento ao fracasso.
Por ser mulher e cantora, Dalva sempre foi discriminada e apontada como dona de uma moral duvidosa.
Esses escândalos forjados pelo marido fizeram com que ela perdesse a guarda dos filhos.
Em 1949, o casal oficializou a separação, se desquitando.
A partir de então, os dois iniciaram uma troca de insultos nas canções que gravavam, fato muito explorado pelos jornais e revistas da época.
A primeira formação do Trio de Ouro terminou, com a separação de Dalva e Herivelto.
Em 1950, Dalva de Oliveira retomou a carreira solo, lançando os sambas Tudo acabado (J. Piedade / Osvaldo Martins) e Olhos verdes (Vicente Paiva), e o samba-canção Ave Maria (Vicente Paiva / Jaime Redondo), sendo os dois últimos, grandes sucessos da cantora.
Em 1952, depois de se consagrar mais uma vez na música mundial e ter sido eleita “Rainha do Rádio” de 1951, Dalva de Oliveira resolveu excursionar pela Argentina, para conhecer o país e cantar em Buenos Aires. Nessa ocasião, conheceu Tito Climent, que se tornou seu amigo, depois seu empresário e mais tarde, seu segundo marido.
Mudou-se para Buenos Aires, indo morar na casa de Tito, antes da união oficial.
Dalva não queria mais ter filhos por conta de sua carreira, que tomava muito seu tempo, mas sempre quis ter uma menina. Por isso, adotou uma criança em um orfanato de Buenos Aires, a quem batizou de Dalva Lúcia Oliveira Climent. Dalva e Tito, após dois anos morando juntos, casaram-se oficialmente em um cartório na Argentina, e viveram em harmonia por alguns anos.
Depois de mais de quatro anos de casamento, começaram as brigas, também por causa da carreira artística de Dalva, que vivia viajando, e de seus filhos, a quem constantemente ela visitava no Brasil. Isso desagradava ao marido, que queria que ela esquecesse sua carreira e seu passado no Brasil, e vivesse exclusivamente para ele e a filha. Ela não aceitou essa imposição.
Dalva e Tito passaram a brigar pela guarda da criança, com brigas verbais e mútuas acusações, mas Tito acabou usando as mesmas provas que Herivelto utilizou, como notícias mentirosas publicadas em jornais, a respeito da suposta moral duvidosa da cantora. Muito triste e infeliz, Dalva, também perdeu a guarda da filha e voltou sozinha para o Brasil.
Retomou sua carreira, fazendo mais sucesso do que nunca. Em 1963, já há alguns anos separada de fato, a separação oficial finalmente foi deferida pelo juiz, já que casamento entre estrangeiros, na época, demorava muito a ser transformado em divórcio.
Dalva de Oliveira voltou a Buenos Aires para assinar os papéis e se divorciou de Tito, voltando logo em seguida para o Brasil.
Seus pequenos momentos de felicidade ocorriam quando seus três filhos a visitavam nas férias escolares de janeiro. Iam visitar a mãe no Rio de Janeiro, e passavam um mês com ela, em sua mansão. A cantora cancelava todos os shows do mês para ficar com eles. Seu desejo era poder viver com os três, sempre juntos, um sonho que não pôde realizar. Os anos se passaram. Dalva vivia sozinha  e já havia se acostumado à solidão.

Estava somente focada em sua carreira e fazendo sucesso, quando, inesperadamente, conheceu Manuel Nuno Carpinteiro, um homem vinte anos mais jovem, por quem se apaixonou perdidamente, e com quem redescobriu o amor. Com poucos meses de namoro, ele foi morar na sua casa. Depois de alguns anos juntos, se casaram oficialmente. Esse foi o terceiro e último casamento de Dalva de Oliveira.

Em 19 de agosto de 1965, Dalva e Manuel, na época ainda namorados, sofreram um grave acidente de carro. Ele dirigia o veículo embriagado, e acredita-se que haviam discutido por causa de ciúme. Manuel perdeu o controle, atropelando e matando quatro pessoas. Dalva ficou em coma durante alguns dias, teve afundamento no maxilar esquerdo, bacia fraturada e ficou com uma marca na bochecha que, apesar de vários procedimentos cirúrgicos, não foi possível a recuperação total. Ao saber que Dalva estava bem e fora de perigo, Manuel assumiu a culpa pelo acidente, pois na verdade era ele que estava dirigindo. Dalva se desesperou ao saber que haviam morrido quatro pessoas, e que ela teria que pagar as indenizações aos familiares das vítimas. Isso contribuiu para o seu prejuízo patrimonial.
Dalva de Oliveira morreu em 30 de agosto de 1972, na casa de saúde Arnaldo de Morais em Copacabana, na presença de seus filhos, Pery Ribeiro, Bily e Gigi, vítima de uma hemorragia interna, causada por um câncerde esôfago. Seu corpo está enterrado no Cemitério Jardim da Saudade, na Cidade do Rio de Janeiro.
Herivelto Martins, depois que se separou de Dalva de Oliveira, passou a namorar a aeromoça Lurdes Nura Torelly, uma mulher desquitada, que tinha um filho do primeiro casamento. Ela vinha de uma família rica, sendo prima do conhecido comediante Barão de Itararé. Em 1952, o casal passou a viver junto, tendo oficializado a união em 1978. Herivelto e Lurdes geraram três filhos: Fernando José (já falecido), Yaçanã Martins e Herivelto Filho, além de criar o filho de Lurdes como seu. O casamento durou 38 anos, até a morte de Lurdes, em 1990.
Violante Pimentel – Escritora
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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