A ESPERA DO OCASO –
Não poderia ser diferente, o que estamos passando neste momento na Saúde Pública do Estado.
Voltamos no tempo e vamos lembrar o que de hábito vinha acontecendo na nossa rede de saúde pública.
Assistíamos diuturnamente, na mídia televisiva, os mais alarmantes quadros de abandono, desmando e desumanidade com aqueles que procuravam esses serviços.
Doentes amontoados em corredores frios e macabros, com enfermos totalmente desassistidos e sem esperanças de acolhimentos.
Filas infindáveis para uma simples consulta, aguardando uma chamada sem fim pela Regulação (computador), que assume a total e real responsabilidade pela demora.
Pacientes traumatizados e ortopédicos aguardavam sem ter confirmações dos dias das suas cirurgias. Muitos com o riscos de serem submetidos a amputações sem necessidade. Como aqueles portadores de pés diabéticos, que quando são atendidos tardiamente perdem a condição de recuperá-los.
Hospitais e maternidades com corredores cheios, enfermos deitados em papelões; gestantes parindo no chão ou em simples cadeiras quebradas, escoradas nas paredes dos corredores das casas de partos. Cirurgias eletivas: filas longas e infindáveis nas telas dos computadores.
Desabastecimentos frequentes e corriqueiros das farmácias dos hospitais e nas UPAS.
As Unidades de Terapias Intensivas (UTIs), adulto e infantil, sendo fechadas e, as existentes, totalmente lotadas; hospitais também sendo fechados na capital ( o único em cirurgia vascular, — o Rui Pereira) e no interior, de forma inconsequente e irracional.
Dito, mostrado e visto o quadro já tão conhecido e crônico, o que dizer agora, com a chegada de uma pandemia avassaladora e mortal, com um índice de contaminação imensurável e universal?
No gerenciamento da saúde, não se vence a doença com tratamento de choque, é preciso, sim, estruturação, prevenção e organização.
É indispensável desenvolver um trabalho que contemple as necessidades em tempos normais de atuação. Isso, na realidade, não vinha acontecendo.
A saúde no Brasil sempre foi vista e administrada em planos terciários e no deboche. Como disse, certa vez, um político cearense “bocão”: “Médico é como sal, branco, barato e tem em todo lugar”.
Não adianta agora querer ser “sprinter”, correr como quem disputa uma prova de atletismo de 100 metros em 10 segundos. As coisas têm que ser planejadas e permanentemente estudadas e reestudadas.
Não adianta fileiras de caminhões e mais caminhões de dinheiro; alegação e instalação de calamidade pública, fundo emergencial, autorização para compras sem licitações; aí, sim, o bicho pega e come! O dinheiro desaparece e é enterrado em algumas contas (covas profundas) bancárias.
É assim mesmo o nosso País. Gente se aproveitando da grave crise sanitária, vendo milhares de famílias não conseguindo nem enterrar os seus entes queridos, para surrupiar o dinheiro público. Essas pessoas são tão mais perversas e mais mortíferas do que o coronavírus. Esse filme tem sido visto e repassado, sempre com grandes plateias.
Vejamos o caso do Consórcio Nordeste para adquirir respiradores (os salvadores de vida); cadê os respiradores? Desapareceram junto com o dinheiro. E aí? Ficamos a ouvir só blá-blá-blá e pronto! O valor de mais de seis milhões,( perdidos em algum lugar, quem sabe por ter contraído Alzheimer), dariam muito bem para ajudar a minimizar o caos instalado e vivido neste triste e cruel momento.
Um exemplo simples e palpável da incapacidade de gerenciamento do modelo de hoje, é só olhar para a região da Zona Norte, que chega a quase 400 mil habitantes; região de prioridade 001 para construção de um hospital de campanha; hoje está listada como área de colapso total, por falta de leitos e de UTI.
Na verdade o que estamos assistindo diariamente, são famílias e mais famílias, chorando a perda dos seus entes queridos por falta de leitos em UTI; e outras, e tantas outras, em filas de espera contando as horas, já não mais pelas vagas, mas sim,—a hora da morte chegar.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]