A EXPANSÃO DO AFETO –

 Afeto é assunto do coração. A afetividade constrói, junto à função motora e à inteligência, o equilíbrio e a harmonia da vida psíquica. Nestes bicudos tempos de pandemia, as manifestações afetivas quase desapareceram. São vedados o abraço, o beijo, e até o próprio “cheiro”, tão nordestinamente brasileiro.

São tempos de expansão. Há trinta anos, o telescópio espacial Hubble provou a ampliação do universo. As fronteiras do conhecimento foram ultrapassadas. Vivemos o crescimento científico e de inovação. As artes estão se expandindo graças à tecnologia. A Inteligência Artificial (IA) ajuda o artista a criar obras de arte, inclusive pintura e poesia. Entretanto, constata-se limitações ao desenvolvimento do afeto positivo.

O Direito busca caminhos para favorecer a saúde mental dos jurisdicionados. Em todo o mundo, a lei tenta acompanhar as modificações da sociedade. A união estável homoafetiva é tão reconhecida quanto a união entre casais heterogêneos. A jurisprudência já estabelece a existência de dano moral por desamor familiar.

O filósofo francês Henri Wallon (1879-1962) provou a não superioridade da inteligência. Ela se interpenetra com as funções motora e com a afetividade. Elucida que a afetividade se expressa através da emoção, do sentimento e da paixão, que, muitas vezes, conjugam-se, interagem. Comparou a Nietzsche que disse: “Sob cada pensamento habita um afeto”.

A qualidade afetiva de uma experiência é a característica que a torna aprazível, desejável, anota o Dicionário Oxford de Filosofia.

O preconceito é o verdadeiro predador da afeição. A humanidade não tem conseguido superá-lo, ou seja, é visível a hostilidade contra os diferentes. É crescente a discriminação contra outro ser humano. Há ações fruto do sentimento negativo por conta de orientação sexual, ideológica, de raça ou etnia, deficiência pessoal, crença, idade, língua. Terríveis são os efeitos da discriminação de torcedores de futebol.

Portanto, tudo se expande, menos o afeto.

A pessoa vítima de preconceito pode perder o prazer do convívio, do sentir-se confortável em seu trabalho e fazer decair o sentimento de utilidade social ou, até mesmo, a própria alegria de viver. Só o conhecimento adquirido na família ou na escola pode transformar a atitude preconceituosa.

Temos de reconhecer que é impossível fugir aos aspectos negativos, os transtornos da existência que nos dão medo, raiva, sentimento de culpa, angústia de viver.

Afetividade positiva é condição essencial à qualidade de vida. Não há felicidade sem afeição. A expansão do afeto positivo, certamente, dará ao homem entusiasmo e gratificação de vida.

 

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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