A FALA DO POVO –
Em nosso tempo, os gramáticos, os cultores da linguagem erudita, estudam e respeitam a fala do povo, patrimônio de inestimável valor. O poeta Manuel Bandeira foi dos primeiros a valorizar “a fala certa do povo”.
A língua portuguesa, universal, possui riquezas inconcebidas. Diferença de falares no cotidiano de cada lugar que a adota. Tem razão o escritor Manoel Cavalcante ao afirmar: “A fala obedece ao chão”.
Singular e fortemente expressiva é a comunicação nordestina. Somos apegados às origens. O nosso português é mais próximo do que era falado nos séculos XVI e XVII. Alguma coisa temos da língua da Galícia. No interior, ouvimos pedir um copo dauga (de água), oxe mesmo (em vez de hoje mesmo), vamo xantá (vamos jantar). Oxente é ô gente. Aliás, galego refere-se ao alourado, estrangeiro.
No Brasil inteiro, substitui-se o pronome nós pela expressão a gente. O diminutivo carinhoso tem uso por aqui. Pixototinha para pequena menina e pixititinha para coisa. No poema de Ascenso Ferreira (“As Naus de Manuel Furtado”), Maria, a de braços roliços e de peitos maciços, pedia ao português apatacado uma das naus que ele teve por herança de sua tia. Ainda mais pixititinha.
Ninguém esgota o tema.
Escritores de nível superior identificaram a beleza e expressividade da fala brasileira. Entre eles, João Ribeiro Antenor Nascentes. Câmara Cascudo deu-me o privilégio de escrever as orelhas e publicar o seu “Locuções Tradicionais do Brasil”. Já havia escrito “Coisas Que o Povo Diz”.
Os acadêmicos Oswaldo Lamartine e Paulo Balá exaltaram a fala do povo, dando-lhe o brilhante polimento urbano.
Muitas vezes, confundimos com gíria o que é de linguagem antiga e clássica. São outros quinhentos está registrado em um dos autos de Luís de Camões.
Continuamos a ouvir, ainda que desprezada pelos “escolarizados”, a expressão prumode (por amor de) e mode, Mode significa para, a fim de, que possibilita fazer.
Vambora, ou simplesmente bora, é um convite de viagem. E elisivo: vamos em boa hora.
É sabido pela maioria que os pronomes oblíquos átonos se ligam aos verbos. Entretanto, é possível vê-los junto a um advérbio. A alegria de quem encontra uma coisa perdida, e exclama: “Taquilo”!
Esta pode ter função vocativa. Nas feiras, ouvimos: Quanto custa o abacaxi, essa menina?
A língua coloquial é espontânea, natural. É mais leve, aliciante, revestida de fluidez. Fale o povo.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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