Violante Pimentel
Nilton e Miraci estavam casados há quase quinze anos e tinham três filhos.
A família já estava na praia veraneando, mas o dono da casa só iria no sábado pela manhã, levando a feira. Era a semana pré-carnavalesca. Ao terminar o expediente bancário, Nilton resolveu aceitar o convite dos amigos para tomar umas cervejas. Logo surgiu um convite para um baile à fantasia, num condomÍnio fechado. A turma já havia combinado que todos iriam vestidos “a caráter”, devidamente fantasiados. Nilton, por insistência dos colegas de trabalho, resolveu ir também. Para ele, só faltava a fantasia. O principal, naquela noite, ele tinha, que era a liberdade, longe da opressão da esposa, dominadora e possessiva. Por sorte sua, ela já se encontrava na praia. Do bar onde se encontravam, saíram para o “grito de carnaval”, passando antes na casa de um dos colegas, para apanhar uma fantasia para Nilton. Ele iria vestido de rei, com coroa e cetro.
A festa foi maravilhosa e Nilton se divertiu muito, sentindo o gosto da liberdade. Embriagado e feliz, esqueceu de que tinha esposa e filhos esperando por ele na praia onde veraneavam. Chegou em casa exausto e dormiu o sono dos justos. Ao acordar pela manhã, bateu a ressaca moral e o medo de que sua mulher, uma verdadeira jararaca, tomasse conhecimento da sua ida a essa festa. Abominou o momento em que se deixou levar pelos amigos, indo a uma festa sem a esposa, e onde havia muitas mulheres bonitas e gostosas, “dando sopa no salão”. Se Miraci, sua mulher, soubesse disso, só Deus sabe o que lhe aconteceria. O pior é que um dos amigos solteiros, ao amanhecer o dia, fez uma postagem no facebook, mostrando uma foto tirada na festa, onde apareciam todos eles fantasiados, inclusive ele. Nilton gelou de medo da esposa, e rezou para que ela não tivesse tomado conhecimento de nada. Foi ao supermercado, fez uma enorme feira, e dirigiu-se à casa de praia. Em lá chegando, foi recebido pela mulher com uma saudação que denunciava que ela estava sabendo da farra que ele fizera.
Ao vê-lo, a mulher falou alto:
-Chegou, meu rei?
Ele reagiu:
-Rei não! Não houve nada demais e fui, praticamente, obrigado pelos amigos, depois de uma cervejada. Afinal de contas, eu estou vivo!!!
A mulher mudou de cor. Ela o chamou de meu rei, sem saber que ele tinha se fantasiado de rei e que tinha ido a uma festa à fantasia.
A briga foi grande…
Violante Pimentel – Escritora