A FLOR DA MANHÃ –

A manhã é uma flor. Você já pensou como a manhã vai florescer quando estivermos livres desse inimigo mortal, o vírus? Então, novamente poderemos abraçar, beijar, cheirar, com toda liberdade, as pessoas que amamos.

Um galo sozinho não tece uma manhã, garante o poeta João Cabral de Melo Neto. E, na melhor das hipóteses, somos galos sozinhos, confinados.

A nossa Cidade é também flor. Não como a xanana, sua flor que não precisa ser cuidada, trabalhada com carinho. Da flor cuida apenas a natureza.

Levei ao poeta-vereador Franklin Capistrano a sugestão de dar à xanana o privilégio de ser o símbolo a Natal. Ou o contrário? Dar a Natal o direito de ter a xanana como símbolo? O projeto foi aprovado pela Câmara e sancionado pela prefeita Wilma de Faria, há mais de dez anos.

Mais intensamente, depois do ato oficial, a xanana tem sido mimada por muita gente boa.

O escritor Pablo Capistrano dá lição filosófica: “Em Natal existe (a flor), que estava aqui antes da Cidade, que estava aqui antes do homem”.

Não se pode descrer da observação de Alex Medeiros, quando afirma que o homem bolina sua flor de rua.

Mário Ivo Cavalcanti, senhor de precisão poética, viu uma cena que poderia ser dirigida por Almodóvar, Fellini, Jeunet. Um jardineiro, vestindo farda azulada, entretido com a xanana. Sentado ao sol deixa que os sentidos se percam nas pétalas esbranquiçadas da xanana. Observa, cheira, cheira mais fundo, esmagando o nariz no gineceu da flor. Pergunta: “Que segredos contará o jardineiro à flor que não tem dono”?

Sempre gostei de conversar sobre plantas e flores comuns com um especialista, o meu amigo Dom Nivaldo Monte. Ele descreve: “Natal é uma Cidade profundamente florida, não de flores de estufa, mas de flores do campo. As xananas cobrem de ouro e ametista toda a amplidão dos seus tabuleiros”.

O flautista e compositor Carlos Zens faz celebração do poder criativo com “A Flor Xanana”. É canção simples e bela, amada pelos natalenses a quem festeja: “Ela celebra o nosso alvorecer”.

Deífilo Gurgel, encantador de sonetos, diz que a flor é exemplo de paz e amor à vida nas manhãs da cidade, ensolarada.

Já se estudou a função medicinal da xanana. Mas, o maravilhoso é fato do mundo espiritual. Dagmar Melo contou-me que, na Federação Espírita da Avenida Rodrigues Alves, Bartolomeu de Lima incorporou um médio e assistiu a uma pessoa, com anemia profunda, em processo cancerígeno. Receitou Chá de folha e de raiz da xanana. A doente não sabia o que era. Bartolomeu respondeu: “Esta é uma florzinha de pé de calçada”. O chá funcionou. A mulher viveu bem durante muitos anos.

O Acadêmico João Wilson Mendes Melo, recentemente falecido, mostra a humildade floral: “É dom de Deus que nasce sem nada a pedir, a não ser o direito de viver”.

Na verdade, é uma flor humilde, mas independente da ação humana. Preza a sua liberdade de nascer, onde e quando florescer.

Enquanto a flor de lis dos reis da França é masculina, a xanana é feminina, flor mulher.

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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