A FORMIDÁVEL PESTE –

Ao enfrentar situações de dificuldade, nada mais importante do que meditar sobre a vida relembrando acontecimentos inesquecíveis. Assim vasculhando as prateleiras das lembranças, lembrei quando em PESTE, hospedado em hotel beira rio, bem cedinho acomodado em um dos seus terraços, vislumbrei o horizonte, caindo encantado, não somente com a prodigalidade do Danúbio, cujas águas um dia já foram azuis, mas com a grandeza de tudo o que lhe cerca. Na outra margem, quinhentos metros adiante, enxergava BUDA, com a sua atmosfera imperial.

Saindo para passear, caminhando por boulevards, praças e avenidas, como folheando imenso livro a céu aberto, mergulhei na história local, e para obter uma perspectiva mais ampla, visitei a Cidadela, um dos inúmeros mirantes existentes nas cercanias, de onde vislumbrei a beleza da  capital húngara com o seu esplendor irretocável, mais parecendo haver sido projetada por um criador paisagista que se esmerou em oferecer panorâmicas inconfundíveis.

Ruas afora, rapidamente fui envolvido com a vida cultural e galante dos dois aglomerados urbanos, rivalizando com Viena, Berlim ou Paris, tendo costumeiramente seus escritores e artistas, o hábito da reunião em variados núcleos da intelectualidade como o Café Alexandra, caracterizado por seu estilo art noveau, o veterano Astória e o barroco e imponente New York.

O Museu da Palavra, a praça ajardinada de Károlyi Kert, a sinistra estátua do Anonymous, a Basílica de Santo Estêvão, o Museu de Artes Aplicadas, o Castelo de Buda construído na idade média. A Grande Sinagoga da Rua Dohány, a Igreja de Matias com os seus ladrilhos coloridos, palco escolhido para a coroação dos monarcas húngaros entre eles, Francisco José e Elizabeth, a famosa Sissi, foram visitas inesquecíveis.

Especial atenção aos locais onde são reverenciadas figuras importantes da história da Hungria, e a celebração do primeiro milênio de fundação do país, respectivamente a Praça dos Heróis e Bastião dos Pescadores. Muito interessante também o memorial, Sapatos às Margens do Danúbio, registro de triste episódio vivido por milhares de residentes de origem judaica, durante a segunda guerra mundial.

Se tempos atrás, Buda, na margem ocidental do Rio Danúbio, era a antiga capital do reino medieval da Hungria. Peste, na oriental, não passava, de um vilarejo. Hoje as duas, unidas por várias pontes, se completam e se uma parte é exuberante, a outra é formidável e juntas dão forma a uma das mais carismáticas cidades que conheci: Budapeste.

Consciente de que a vida não é feita apenas de felicidade, trago a certeza ser em momentos difíceis que devemos lembrar de quando fomos felizes, e assim fazendo reconheço a importância de viajar, porque enriqueço em todos os sentidos: mentalmente, visualmente, energeticamente e principalmente aprendendo. E ao retornar pude contar a todos que a palavra Peste, é um temo eslavo que significa: forno, fogão, enquanto Buda ou Aquincum, deriva da palavra água, devido aos diversos mananciais termais que propiciam tanta fama à região. Viva Budapeste.

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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