A GRANDEZA DE DOM QUIXOTE –
Muitas são as ocasiões nas quais nos deparamos com situações onde a falta de empolgação, insumo fundamental em qualquer relacionamento, se faz visível. Seja considerando tanto a vida profissional ou engajamentos amorosos.
Constantemente vislumbramos exemplos, nos quais o jubilo ostentado pela convivência entre pessoas, muito se assemelha ao de um par de pinguins passeando calmamente nas geladas paisagens do Alaska.
Em outras ocasiões, seres humanos, desenvolvem suas atividades profissionais com a desventura de um bicho preguiça, sem nenhum arrebatamento, vontade ou objetivos para colocar em pratica, mas apesar de tudo, não arredam o pé do posto que ocupam prejudicando o contexto e até sua própria história.
Existem convivas que interagem com outros, seja de forma afetiva ou a trabalho, mesmo após décadas de parceria, sempre de forma arrebatadora, flutuante, se apresentando delirantemente feliz e sempre predispostas a continuar a sê-lo.
Outros personagens porém, teimam em não aprender a melhor hora de sair, seja qual situação for, para levar (e deixar) somente as boas lembranças. É como passar um feriado em praias encantadoras, o cidadão dorme, o sol bronzeia e os mosquitos não atacam. Mas se demorar o suficiente para perder o entusiasmo, tudo muda e os problemas surgem, os quais sem o ânimo necessário deixam de ser resolvidos.
Perder a força de sonhar, de realizar juntos e em prol de objetivo único é algo que engessa os indivíduos, levando-os a sentirem-se vítimas do próprio processo que muitas vezes é fomentado por si próprio e também incentivados por indivíduos possuidores de interesse na situação, quase sempre buscando benefícios próprios.
Ratificando tais ideias, veio-me a mente, fato acontecido outro dia quando participava de evento técnico, onde durante debate até certo ponto ríspido acontecido entre dois profissionais, que buscavam impor suas verdades como absolutas, quando um deles, chamou o outro de Dom Quixote, tentando assim, creio eu, desqualifica-lo em suas pretensões, outorgando-o a pecha de sonhador, verdadeiro cidadão sem rumo, sem possuir objetivos concretos em suas pretensões.
Para minha surpresa, a replica oferecida pelo agredido verbalmente, que em várias ocasiões apresentava-se como senhor da verdade, foi extremamente pífia, pois restou claro o mesmo não conhecer a história escrita por Cervantes no início do século 17, mas que continua a encantar o mundo, com lições que ainda hoje são relevantes.
Na realidade, Dom Quixote apesar de nomeado por Sancho Pança, indivíduo simples e ignorante, mas de muito bom senso, seu fiel escudeiro, como “Cavaleiro da Triste Figura”, caracteriza-se por ser possuidor de comportamento fomentado pelo lema “fazer o bem”, sempre em busca de atingir seus objetivos, cumprindo suas tarefas e busvando sua donzela imaginária.
Tivessem os racionais um pouco de Dom Quixote, melhor entenderia ser a vida perfeita do jeito que é, e que com vontade, dignidade, persistência e pessoas certas ao seu lado, haveria de mudar para melhor, não somente relacionamentos. mas ambientes aos quais todos pertencemos.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras