A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA –
Recentemente, o mundo comemorou o Dia Mundial da Água instituído pela Organização das Nações Unidas(ONU), para mobilizar governos e sociedade a refletirem sobre o tema. Como sabido, o acesso à água limpa e de boa qualidade é um direito de todo ser humano, cabendo aos governos a sua regulamentação e à sociedade, através de Ong’s, especialistas e outras instituições organizadas, à mobilização para que isso ocorra.
Neste sentido, chama a atenção os dados produzidos pela Fundação SOS Mata Atlântica para com o descaso com os rios existentes em diversas regiões do país que, diariamente, sofrem com a degradação de suas águas por atravessarem áreas urbanas, regiões metropolitanas e mesmo áreas rurais, com ou sem a exploração do agronegócio.
Os dados da pesquisa estão referidos a cursos d’água importantes, tais como São Francisco(NE), Tietê(SP), Doce(MG), Paraopeba(MG), Jaguaribe(CE), Parnaíba(PI), Paraíba do Sul(RJ), Iguaçu(PR), Sinos(RS), Mamanguape(PB), entre outros, e correspondem a análises de qualidade d’água, realizadas em 278 pontos de coleta distribuídos em 220 rios do país, localizados em 17 estados beneficiados pelo bioma mata atlântica, no período de março/2018 a fevereiro/2019.
Os resultados indicam que em 74% dos postos de coleta a qualidade da água é precária, estando no limite mínimo permitido pela legislação e pelos padrões internacionais de qualidade de água para o consumo humano, agricultura irrigada, pesca e lazer. Por seu turno, 19% dos postos monitorados estão em rios poluídos, com a qualidade da água considerada ruim e péssima, ou seja, imprópria para o uso, enquanto que apenas 7% dos postos coletados apresentam água de boa qualidade.
Se não bastasse esse cenário de degradação e poluição de nossos rios, fruto da falta de saneamento ambiental e de tratamento de esgotos, que se reflete nos altos índices de má qualidade da água, apontados pela pesquisa, o desastre ambiental protagonizado pelo rompimento das barragens de rejeitos em Mariana, comprometeu à qualidade da água do rio Doce, cujos malefícios se estenderam pelos estados de Minas Gerais, Espirito Santo e Bahia, o mesmo acontecendo com a tragédia de Brumadinho, que tornou imprópria para o uso às águas do rio Paraopeba e de afluente da bacia do Alto São Francisco. As consequências desses cenários, sinalizam para duas questões preocupantes.
Primeiro, porque potencializa a disputa pelo uso da água, na medida em que cresce a demanda por esse insumo, não só pelo aumento da população, mas, também, pela mudança nos padrões de consumo, o que conflita com a degradação ambiental que torna os recursos hídricos cada vez menos disponíveis. Relatórios recentes da ONU, “indicam que o uso da água tem crescido em todo o mundo em torno de 1% ao ano, desde a década de 1980, prevendo-se que o crescimento da demanda mundial por água até 2050, deverá corresponder a um incremento de 20% a 30% nos atuais níveis de consumo”.
Segundo, por agravar os riscos de escassez de água, pela inexistência de políticas de combate ao seu desperdício e de incentivo ao seu reúso, principalmente nas áreas urbanas e nas regiões metropolitanas das grandes cidades, bem como pelas dificuldades de se minimizar os impactos das mudanças climáticas na oferta d’água, sobretudo nas regiões semiáridas.
É relevante ressaltar, que mesmo dispondo de 12% da disponibilidade de água doce do planeta, o Brasil não está imune, a exemplo de outros países, de conviver com o estresse hídrico, que ocorre quando à demanda por água é maior do que à oferta. Isto se verifica fortemente no caso do Semiárido nordestino e ocorreram em algumas regiões metropolitanas, que enfrentaram crises agudas, a exemplo de São Paulo em 2015/2016, e de Fortaleza que ainda se recupera de sete anos de seca.
Antoir Mendes Santos – Economista