A IMPRENSA, A LÍNGUA, A NOTÍCIA – José Carlos Gentili

A IMPRENSA, A LÍNGUA, A NOTÍCIA –

A velocidade de obsolescência ganha foros de instantaneidade neste mundo globalizado. A vertiginosa velocidade dos acontecimentos é algo espantoso para nossas mentes paquidérmicas, afeita aos jornais com suas circulações diárias, com suas mesas revisoras, opiniões do editor, nos formatos tabloides e convencionais, cada qual a dimensionar os noticiários, preocupados com a exatidão das notícias e com seu cunho de veracidade.

Algo tradicional e até certo ponto romântico!

A imprensa sempre primou pela observância da norma culta da Língua Portuguesa, cultivando-a com o sentido básico e elementar do ensino cultural de um povo em nações lusófonas.

A centenária Academia Brasileira de Letras, outrora berço de notáveis cultores do Idioma de Camões, passa a reunir uma plêiade de jornalistas, economistas, cineastas da maior estirpe, a enfeixar músicos e jogadores de futebol, numa extraordinária e calidoscópica visão sociocultural.

“Cada um tem tantos direitos, segundo o poder que tem”, já afirmava Baruch Spinoza no medioevo.

Muitas universidades estão a oferecer vestibulares, via internet, proporcionando à massa analfabeta funcional, que alcança patamar em todos os níveis, em coeficientes que se aproximam da metade da população brasileira, ingresso no mundo universitário, de forma não meritória, ausente o condão da meritocracia.

Atualmente, há uma dicotomia entre assessoria de comunicação e comunicação de imprensa, em que a primeira serve-se da segunda, visando a incrementar nos meios de comunicação oficial a linguagem não–binária (homem e mulher, macho e fêmea); alardeando, enfatizando e difundindo no seio da plebe ignara a vertente do universo LGTBI+, minoria que pretende implantar na sociedade normal um viés de gênero, estigmatizando as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), entidade civil, regulada pelos ditames oficiais, desde 1940.

A Constituição brasileira estabelece como Símbolos Nacionais a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional, ao fixar em seu art.13: “A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”.

O ensino da língua pátria, no Brasil, tem dispositivo legal a ser obedecido, sedimentado pelas Altas Partes Contratantes dos 9 (nove) países, que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa-CPLP, encontradiça no Palácio Penafiel, em Lisboa, Portugal.

Lembremo-nos do Acordo Ortográfico- AO90, de 16.12.1990, assinado pelos presidentes da época, o brasileiro Inácio Lula da Silva e o lusitano Aníbal Cavaco Silva; e, até agora, após um decênio, ainda não ratificado por Angola e Moçambique.

Marcelo Rebelo da Silva, ilustre e honrado Presidente de Portugal pretende, atualmente, promover processo revisional do acordo, corroborando as palavras do saudoso acadêmico Carlos Heitor Cony, quando afirmou: “Tais mudanças fazem do acordo algo inútil e improdutivo”.

O Manual de Redação da Presidência da República registra ser: “diretriz, de cunho oficial, que norteia as regras e técnicas da língua portuguesa utilizada na construção da literatura redacional, dos atos oficiais e do processo legislativo do Brasil. (Portaria SG, n° 2, de 11.1.1991- DOU de 15.1.1991).

Estamos a falar de norma, de padrão nacional!

Lamentavelmente, alguns integrantes de corpos docentes, ao seu talante e alvedrio, carentes de conhecimentos linguísticos e usuários do Glossário de Gênero, inovam com neologismos tais como agênero, cisgênero, gênero fluído, transgênero, crossdresser, drag queen, genderqueer (cirnormatividade de gênero), gênero neutro, ambigênero, transexuais, intersexuais (hermafroditas), festejando no dia 14 de julho, data festiva da Queda da Bastilha, como Dia Internacional do Orgulho e da Visibilidade de Pessoas Não-Binárias.

Nada de novo no mundo, porquanto os pederastas, os eunucos, i castrati, os afeminados, sempre, ostensivamente ou não, existiram numa opção vivencial, a utilizar seus corpos da forma que lhes aprouver.

Em termos de cidadania, nada obsta, sem comentários, resguardando-se inalienáveis direitos de liberdade e de expressão.

Todavia, a pretensão modificativa dos artigos a e o, enunciativos da condição vocabular de feminino e masculino, substituídos por X, é algo que ultrapassa a vã filosofia, pretendendo-se alterar o idioma, como fosse algo particular, específico, mutável ao sabor de lantejoulas, guirlandas e paetês coloridos.

A enunciação de todas e todos, ao feitio de um chavão, como este último vocábulo, um pronome indefinido, plural de todo, não abrangesse vertentes masculinas e femininas, de forma ambivalente.

Amós da Silva, ilustre Presidente da Academia Brasileira de Filologia e o seu Vice-Presidente Deonísio da Silva, professores e filólogos, cultores da Língua Portuguesa, conscientes do descaso do ensino linguístico, mostram-se estupefatos com a desídia comportamental daqueles que deveriam defender a Língua Portuguesa neste continente chamado Brasil.

O tempo dirá!

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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