A MÁFIA E O BRASIL –
Toda a imprensa mundial registra a morte nesta madrugada, 25, do conhecido chefe da máfia siciliana, Matteo Messina Denaro, capturado em janeiro após três décadas de fuga.
Por que esse destaque na mídia?
A máfia é uma sociedade secreta com suas próprias regras e líderes, seus territórios e seu exército de assassinos.
Não é como o crime comum.
A máfia antiga sobreviveu à margem da sociedade.
A máfia moderna sempre esteve ligada à sociedade e protegida pelo poder.
A máfia nasceu no século XIX na zona rural italiana e nas propriedades, que, década após década, tinham sido abandonadas pelos barões e nobres.
Wálter Fanganiello Maierovitch, desembargador aposentado e colunista, aprofundou-se no tema e coube-lhe a tarefa de colaborar com a justiça italiana para a extradição de um mafioso capturado no Brasil.
Em suas análises, Maierovitch estabelece também algumas comparações com a principal organização criminosa do Brasil, o PCC, e outras, que classifica como inseridas em um estágio “pré-máfia”.
Diz ele que “O PCC ainda não conseguiu a força transnacional, mas já cruzou fronteiras com o Paraguai e Bolívia”.
Maierovitch mostra muita preocupação com o Brasil, em razão do crescimento de grupos semelhantes a máfia no crime organizado.
Ele alerta que “não adianta só possuir a folha da coca. É preciso dispor de éter e acetona para produzir a cocaína”.
Continua a sua opinião dizendo que “antigo candidato à” presidência da república afirmou que a primeira coisa que faria, se fosse eleito, era ir à Bolívia exigir que parassem de refinar a cocaína. Mas ele não percebia que era o Brasil que fornecia insumos para a Bolívia, que não tem indústria química. Não é culpa só da Bolívia, é do Brasil também, porque não controlamos os insumos”.
O grande risco dessas organizações criminosas ao longo dos tempos foi que se acham com força para enfrentar o estado.
São organizações que sempre conseguem se infiltrar na política partidária, na institucional e, de repente, enfrentam o estado.
No Brasil há indícios de representantes da existência da rica e poderosa da máfia italiana, a’Ndranguetta, implantada na região da Calábria, com representantes em mais de 40 países, incluindo o nosso país.
É considerada por especialistas como a máfia italiana mais poderosa, depois de ultrapassar a casa Nostra e a Camorra napolitana.
Frank Sinatra, ator e cantor norte-americano descendente de italianos e eterno ídolo de diversas gerações, possuía suas ligações com a Máfia Ítalo-Americana – Cosa Nostra.
Após sua morte, em 1998, sua filha, Tina Sinatra, fez revelações do envolvimento do pai com a máfia, incluindo esquemas de mútua ajuda na campanha presidencial de John Kennedy contraNixon.
O Brasil aprovou em 2013 lei que define e tipifica a organização criminosa, com penas, métodos de investigação específicos e medidas cautelares próprias.
Os resultados foram pífios.
O país tem cerca de 30 mil membros do crime organizado e movimenta cerca de 400 milhões de reais ao ano.
Continua a ocupar altos postos em rankings de corrupção.
Análises jurídicas revelam, que de nada adianta aumentar anos de penas ou criar regimes severos sem a integração de dados policiais, sem a organização mínima dos cartórios onde correm os processos penais, sem a qualificação de servidores que possam levar a diante uma perícia ou uma análise contábil em tempo adequado.
Enquanto isso não acontece, milhares de pessoas são afetadas nas suas relações políticas, sociais e econômicas.
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal, [email protected]