A MENINA DA MÁSCARA ROSA – 

O sinal amarelo me obriga a diminuir a velocidade lentamente até parar o carro. Vejo uma garota com farda da escola e me pergunto há quanto tempo não via estudantes carregando suas mochilas pesadas, rindo e brincando pelas ruas. O barulho caraterístico de quem acredita que tem muito a fazer, mas não imagina como o futuro vai mostrar que aquela fase da vida era leve, descontraída e fará falta em breve.

Diante do nosso “novo normal”, a paisagem urbana mudou. O trânsito ao redor das escolas diminuiu e os estudantes, em sua maioria, optaram pelas aulas remotas. Fazia tempo demais que não via a simples e rotineira imagem de alguém saindo da escola… Mais do que podia imaginar ou esperar… A percepção disso me assusta e incomoda e, assim, minha atenção se volta para a garota.

Ela estava só. Andava lentamente. Parecia cansada. Usava máscara rosa. Cabelos negros e lisos voavam brincando pelo seu rosto, contrastando com sua pele alva. Seus olhos lindos, expressivos, pareciam tristes. Seu corpo rechonchudo, fora dos padrões estéticos exigidos, pareceu-me tão perfeito ao olhá-la. Fiquei me perguntando se alguém tinha dito a ela o quanto é linda. E se ela teria acreditado…

A cobrança por uma estética “perfeita” é simplesmente terrível. Sempre causa marcas. Em qualquer idade! Inúmeras vezes nossas conversas começam ou terminam com: está gorda, está magra, é alta demais, é baixa demais, seus cabelos são muito lisos, seus cabelos são muito volumosos, muito cacheados, muito grisalho, sua pele tem muita espinha, seu quadril está muito largo, não tem peito, tem bunda demais…

E, ao final da “cobrança externa”, paramos diante do espelho e passamos a régua em nós: estou gorda, fora de moda, cabelo antiquado? Fica difícil de se encarar ou se aceitar… Difícil nos ver como realmente somos, muito mais do que estamos… Sim, tudo isso é questão de ESTAR, não de SER. Somos mais que medidas e padrões…

Cheguei em casa chateada. Chateada por não saber quem é aquela garota e não ter tido a oportunidade de lhe dizer:

– Ei, garota da máscara rosa! Você é muito linda, viu? Levanta o rosto, respira o mais fundo que esta máscara permite e segue na vida!

Acho que mais garotas de máscaras rosas, azuis, florais ou brancas por aí precisam ouvir isso… Sempre… Todos os dias… E, assim, levarem a vida de forma mais leve…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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