A MINHA CANÇÃO –
Dia desse, dirigindo e sintonizando FMs ao acaso, escutei, de este trecho de verso musicado: …preste atenção, essa é a nossa canção… Tratava-se de Nossa Canção, sucesso de Roberto Carlos, em 1966, com letra e música de Luiz Ayrão.
Foi quando eu atentei para o detalhe de nunca haver definido uma música para chamar de minha ou que se caracterizasse como a canção de minha vida a dois. Um baita desaforo para quem se considera um romântico de carteirinha.
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
A maioria de meus amigos ou pessoas com as quais eu me relaciono, se questionadas sobre o tema, certamente terão na ponta da língua qual a música significativa de suas existências. Realmente, não é nada incomum, haja vista permanecer no inconsciente de cada indivíduo um odor, uma visão ou uma sonoridade que o reporta a boas ou más lembranças pretéritas.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
Algumas músicas tiveram papel de destaque em diferentes fases de minha vida. A mais antiga lembrança vem do meu tempo de Ginásio São Luiz, onde eu e mais dois colegas formamos um conjunto vocal para as aulas de Canto Orfeônico. Na época estava em voga trios como o Los Panchos, o Irakitan, o Nagô e outros. A música que mais interpretamos foram Beija-me, Perfídia e Prece ao Vento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor que tive:
Quando de meu noivado, brinquei o Carnaval de 1967 ao som da marcha-rancho Máscara Negra, de Zé Keti. Curti, também, Carinhoso, no jeito de cantar de Bethânia e, Fascinação, com o registro inimitável de Elis Regina.
Em seguida, descobri e me amarrei nos estilos vocais de Frank Sinatra e de Nat King Cole e com o som das orquestras de Glenn Miller, Ray Conniff e Paul Mauriat. As músicas deles que mais me marcaram foram, respectivamente, All the Way e Fly Me to the Moon; Unforgettable e Mona Lisa; e as interpretações instrumentais de Moonlight Serenade, Love Is Many Splendored Thing e Love Is Blue. Isso sem esquecer dos Beatles.
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Entretanto existe uma música que, todas as vezes que eu a ouço, sinto o corpo relaxar e uma paz misteriosa invadir meu ser. Trata-se, segundo a revista Rolling Stone Brasil, da 24ª melhor canção brasileira. São inúmeros os interpretes da composição de Vinicius de Moraes e de Tom Jobim, entretanto, ela nunca perdeu a beleza nem o encantamento em quaisquer das versões trabalhadas.
Particularmente, eu prefiro a interpretação que traga recitado o Soneto da Fidelidade, também de Vinicius, transcrito nas entrelinhas deste texto.
Eu sei que vou te amar é a música que escolho como minha canção.
José Narcelio Marques Sousa – engenheiro civil