A NOIVA ABANDONADA! –
O saudoso cantor e compositor potiguar Carlos Alexandre, um dos maiores do brega popular brasileiro, em uma de suas canções disse:
“Não te deixo nunca, te abandono não
Você traz a paz pro meu coração
Você é ternura, você é saudade
Você é sinônimo de felicidade”
A música era uma homenagem a Natal, capital do Rio Grande do Norte e terminava assim:
“Em suas areias gosto de pisar Com as suas águas vivo a me banhar Você para mim é lazer total É minha cidade, é o meu natal
E quando eu estou distante A vontade é de voltar Voltar pra minha cidade Natal é o meu lugar”
Carlos Alexandre tinha o sentimento popular pulsando em suas composições e a canção Natal, Cidade Noiva do Sol retratava bem o imaginário de todos os potiguares, como ele que era de São José do Campestre, como de todos do Brasil e do mundo que nos visitavam.
Com uma natureza exuberante não era difícil imaginar que o turismo seria o carro chefe, ainda mais com um nome tão universal como este, que representa o nascimento de Jesus e com sua fundação partindo de um forte português de nome de Reis Magos.
Natal belíssima onde o mar se encontra com dunas, praias exuberantes, como Ponta Negra e seu moro do careca, ainda teve o privilégio de ficar conhecida com a base americana na segunda guerra mundial, décadas depois com a base de lançamento de foguetes e bem próximo o maior cajueiro do mundo.
Tínhamos tudo para decolar e até decolamos com a via costeira e uma rede hoteleira importante com cerca de 40 mil leitos, chegamos inclusive a disputar as primeiras colocações em número de visitantes, mas na última década despencamos e fracassamos.
Toda escolha é uma renúncia e renunciamos o essencial, o desemprego que assola o Brasil, em terras potiguares o cenário é mais dramático, pois renunciamos o turismo, renunciamos até o nosso jeito tranquilo de viver.
Natal não é mais a mesma, ninguém mais dorme de janela aberta para usufruir da brisa fria que vem do mar, os muros das casas estão mais altos, agora com cercas elétricas e grades, nossa cidade se tornou uma das capitais mais violentas do País, inacreditável.
Até a areia da praia resolveu sumir, colocaram um talude de pedra que diminuiu a beleza da Praia de Ponta Negra para conter as cheias da maré, mas que também serviu para abrigar ratos.
A terra de tantos empreendedores que fizeram de Natal a capital mais moderna no nordeste, um sucesso que atraiu investidores nacionais e internacionais, hoje se frusta como um dos locais mais hostis para se investir e empreender no País, a exemplo do Plano Diretor engessado e ultrapassado e toda uma insegurança jurídica que interditou obras, empreendimentos em disputas intermináveis no moroso judiciário e em pouco tempo saímos da vanguarda para a estagnação.
Até nos serviços estamos retrocedendo, não é muito difícil achar uma placa de “vende-se” e “aluga-se”, ande com atenção pela avenida mais importante da economia da cidade, a avenida Prudente de Morais para atestar o desânimo.
O aeroporto novo que chegou como esperança é uma decepção total, moderno e até bonito, mas longe, muito longe e arriscado para quem chega e quem parte de madrugada e passa pela ponte antiga e corre o risco de ser abordado por marginais num arrastão.
Agora para incrementar o cenário, a cada dia o turista e o potiguar tem menos opções de voo, sem contar que são as passagens mais caras da região nordeste, prejudicando ainda mais nosso carro chefe econômico, o turismo.
A culpa é nossa, não adianta ficarmos apontando o dedo para um e para outro, não foram poucas as vezes que o natalense e o potiguar em geral erraram nas urnas, na hora de escolher seus governantes e representantes, como também erramos ao silenciarmos para os absurdos que fizeram com nossa querida Natal.
Agora é hora e até passou da hora de soerguemos nossa cidade e para deixar um exemplo de esperança neste artigo de lamentos e revoltas trago o fantástico projeto de centro cultural Augusto Severo, no antigo aeroporto de mesmo nome, um equipamento que vai nos resgatar orgulho e autoestima, além de fomentar mais um atrativo turístico imponente.
Sem perder o foco precisamos mais do que nunca cobrar investimentos públicos nas nossa orla urbana, Ponta Negra, Praia do Meio e Redinha estão entregues à prostituição e a degradação. Investimentos públicos que venham atrair também a iniciativa privada novamente, desta vez com segurança jurídica de um plano diretor que nos permita crescer e gerar empregos.
Natal precisa sair das sombras para novamente se abraçar com o sol no encontro do Potengi com mar, com as dunas como véu de noiva, e isso não é brega, o cantor da feiticeira sabia bem, a noiva do sol só precisa de carinho.
Renato Cunha Lima – Administrador de Empresas