A NOVA POLÍTICA E A ALONGADA SECA NORDESTINA – Luiz Serra

 

A NOVA POLÍTICA E A ALONGADA SECA NORDESTINA –

Chuvas deste ano nas grandes cidades nordestinas favoreceram a uma nova e boa perspectiva, mas o fenômeno persiste na imensidão adusta da caatinga, mesmo exposto às páginas e filmes denunciadores da literatura e da arte.

No lado político, prenúncios de novos produtos israelenses, máquinas capazes de fabricar água potável a partir da umidade do ar. E a questão anterior, por que não revitalizar o projeto parcial de transposição da vertente do São Francisco. Desde Rachel de Queiroz a Graciliano Ramos; além do paraibano José Américo de Almeida e as descritivas candentes do mestre potiguar Câmara Cascudo. Mario de Andrade embrenhou-se pelo sertão, Cascudo já o fizera, encontraram-se, quando extraiu em crônica que “mesmo na aridez o sertanejo festeja, reage”.

José Américo de Almeida, nas letras tormentosas, em Coiteiros, já trazia a dramática situação que desafiava qualquer análise social, já que a realidade que vinha a lume tingia de novas impressões para a capacidade humana de sobrevivência. Refiro-me a este trecho do paraibano de Areia em descritiva cáustica.

“A seca ciclotímica no meio de toda a situação crítica.
Aqueles que espalhavam algumas reses pelo pasto ressequido, já não encontravam uma cactácea isolada íntegra, com que o bovino ou caprino pudesse se aguentar. A água débil na cabaça era sorvida por crianças esqueléticas. Os ossosos muares já não se aguentavam de pé. Em geral as fazendas das caatingas não tinham cercas, e, tempos adiante, é com o aparecimento das reses catingueiras que se faziam cercados de taboca”

E resumia ainda mais a dramática cena, sem poupar o leitor de abalos ou comoções.

“Os (animais) que iam caindo, encarabichados, não se levantavam mais. Estiravam os pescoços, que ficavam enormes, para alcançarem a ração de espinhos. Vinham tão sôfregos que tombavam no fogo. Chegavam os focinhos às labaredas, comendo os espinhos escaldados, lambendo pedaços de chique-chique ainda chamegantes. Engasgavam-se com brasas, babando-se, a baba feito uma salmoura” (Coiteiros, 92).

Há dois anos, procurei traçar, em ensaio de pesquisa, um atual e persistente cenário desafiador que ainda perpassa a seca nordestina, que vem de longe no tempo. Excerto de O sertão anárquico de Lampião, 102.

“Uma constância na aparência física da caatinga pode-se resumir nas ramificações vegetais próximas do solo, com galhos retortos em variadas direções, em solo predominantemente raso e de estrutura mineral pedregosa. A abrangência do solo possui considerável extensão, perto de 10% do território brasileiro.

No ano 2000, a caatinga estava presente em boa parte dos estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco, Rio Grande do Norte, e, um pouco menos, no Piauí. A extensão de caatinga ocupa cerca da metade dos estados da Bahia e Alagoas e Sergipe, e uma mínima fração de Maranhão e Minas Gerais.

Nos estratos de solo mais elevados, tipificados como submetidos a secas menos vigorosas, em geral, situados em largas extensões próximas do litoral, são as regiões chamadas de Agreste. Cenário adusto onde reinou o chefe cangaceiro maior, Lampião, resultando num misto de violência e folclore”.

E tudo isso moveu o nordestino que ganhou o Brasil e o mundo.

 

Luiz SerraProfessor e escritor
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