A ONDA –

Falam em segunda onda… Penso no meu medo do mar… Nunca aprendi a nadar. Foram várias as tentativas. Perdi as contas de quantas vezes fui obrigada a fazer natação, mas, por pura ironia, morria na praia… Nunca aprendi.

Morando sempre em Ponta Negra, a praia era um passeio obrigatório. Claro que isto incluía outras coisas deliciosas. Subir o Morro do Careca. Beber água de coco sentada na areia escaldante. Comer ginga com tapioca. Chupar picolé derretendo sob o sol delicioso. Encontrar os amigos.

Nada de protetor solar, camisas de proteção UVA/UVB, bonés. A pele ficava vermelha e ardendo, até chegar o momento que descascava. Sem medo de câncer de pele! Nem de melasmas. Nem de envelhecimento precoce. No máximo, usava Hipoglós nas áreas mais ardidas ou amido de milho gelado.

Não havia essa de bolsas combinando com as cangas ou qualquer frescurinha que temos hoje. Usávamos sandálias Havaianas brancas com tira azul ou amarela. O mesmo biquíni por todo o veraneio. Aliás, todo o ano! E a marquinha não era a preocupação. A preocupação era chegar em casa na hora marcada! Para o almoço…

Sempre gostei de caminhar. De uma ponta à outra da praia, sentindo a água molhando meus pés. Abaixando-me de vez em quando para pegar conchinhas. Olhando os furinhos feitos pelos tatuís e os siris escondendo-se nos seus túneis. Reclamando dos palitos de picolés que sujavam minha praia. Minha! E olhando as ondas. A primeira, a segunda, a terceira…

Algumas com sargaço, enroscando na perna. Outras com água viva, queimando a pele com um ardor imenso. Outras acompanhando a rede, com os pescadores em grupos imensos, puxando e puxando aquela rede e os peixes pulando, tentando escapar, até que, por fim, iam para as cestas e depois, para as frigideiras das barracas espalhadas pela praia…

Raras as vezes que me decidia por entrar no mar, dar um mergulho – com os dedos comprimindo o nariz! -, ficar de bobeira sentindo os olhos ardendo por causa do sal. A primeira onda era a mais difícil de encarar. Geralmente me fazia duvidar se queria mesmo aquilo. Mas, depois que vencia a primeira, as outras eram mais tranquilas de encarar.

Acho que é isso que espero deste período pandêmico. A primeira onda foi barra! Espero que consigamos superar as próximas… A segunda, a terceira, a quarta… Quantas vierem… Em paz…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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