A PARAÍBA É TERRA DE ILUSTRES PERSONALIDADES E INTRÉPIDOS GUERREIROS – Luiz Serra

A PARAÍBA É TERRA DE ILUSTRES PERSONALIDADES E INTRÉPIDOS GUERREIROS –
O tropo do Tupi ‘para-iba’, literalmente significa “rio de dificuldades, aquele que não serve para transpor canoa, ruim para navegar”. Talvez, deste obstáculo nasceu a força guerreira da terra.
E suas personalidades se orgulham de serem filhos da terra Paraíba: o presidente da República Epitácio Pessoa, de Umbuzeiro; o poeta simbolista Augusto dos Anjos, de Sapé; o dramaturgo Ariano Suassuna; o jornalista Assis Chateaubriand, criador da grande imprensa brasileira.
Um historiador paraibano deixou registro de que terra de valor foi Areia, do mesmo estado nordestino. “Foi lá que nasceu Pedro Américo, artista maior que concebeu a tela magistral representando a Independência do Brasil”. E completou: “foi em Areia também onde nasceu José Américo, que consolidou a independência política do
Brasil”.
Não há que contradizer o inspirado historiador. A tela de Pedro Américo (de Figueiredo e Melo), 1843 – 1905, vem sendo exposta em livros escolares de história, é uma unanimidade brasileira, como tela artístico-representativa.
Na Paraíba, cada lugar tem sua história peculiar. O escritor modernista Mário de Andrade realizou viagem com o folclorista Câmara Cascudo em 1929 pela cidade paraibana de Catolé do Rocha. Cascudo esclareceu a toponímia Catolé do Rocha em razão da abundância de uma palmeira nativa, o Coco Catolé; e Rocha, uma homenagem ao seu fundador Francisco da Rocha, dono de sesmaria.
O escritor e político José Américo de Almeida, 1887-1980, mais conhecido como autor de A Bagaceira, foi quem inaugurou o prolífico romance regional nordestino da lavra Modernista brasileira, além de derivar um caudal de obras belíssimas, do extrato de Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz.
José Américo, romancista, ensaísta, folclorista, sociólogo, poeta, cronista, político, advogado, foi pré-candidato à presidência do Brasil em 1937, seu objetivo era obstar a ditadura de Vargas, mas adveio o golpe do Estado Novo. Em 1954, insistiu para que Getúlio Vargas renunciasse e fosse viver vida mais sossegada na fazenda dos pampas, mas veio o suicídio do presidente. No governo Geisel, em conversas ministeriais teria influenciado a tese da transição democrática. Golberi do Couto Silva, então eminência parda e cognominado pela imprensa o ‘bruxo’ do regime militar, certa vez comentou: “Após cada reunião com José Américo os generais batiam três vezes na madeira”, tal a fama de pé-frio do escritor paraibano.
Mas nem sempre foi assim: em 1932, a aeronave em que viajava, um hidroavião, o Savoya Marchetti, caiu no mar na costa da Bahia, “foi um estrondo medonho!”, desabafou ele. Morreram todos, exceto José Américo.
Rememorando a Vila em que nasceram esses dois heróis brasileiros, e paraibanos, na realidade chamava-se à época Vila do Brejo d’Areia, povoado nascente ao lado do riacho Areia. Em fevereiro de 1849, travou-se em Areia o último combate da Revolução Praieira. No município, a campanha abolicionista foi das mais intensas. Areia foi a primeira cidade do estado da Paraíba a libertar seus escravos, no dia 3 de maio de 1888, dez dias antes da proclamação da Lei Áurea.
O quadro histórico de Pedro Américo, O grito do Ipiranga, está exposto no Museu Paulista da USP.
Luiz Gonzaga eternizou a canção Paraíba. A música representa um símbolo da força do sertanejo, embora tenha um referencial político, uma vez que exalta a resistência do coronel José Pereira de Lima, da cidade de Princesa, próspera na cultura algodoeira, contra o então governo modernizante de João Pessoa (1928-1930), terras do coronel frequentadas pelo cangaceiro Lampião na primeira metade do século XX.
“Paraíba masculina mulher macho sim, senhor! Êta Pau Pereira que em Princesa já roncou! Quando a lama virou pedra / e Mandacaru secou / quando a Ribaçã de sede / bateu asa e voou / foi aí que eu vim me embora / carregando a minha dor”…
Paraibano de Exu, Gonzaga legou-nos este retrato e registro da letra inspirada nos personagens eloquentes da “nação” paraibana.
Em 1981, o cineasta paraibano Vladimir Carvalho lança o filme-documentário com abordagem na efervescente vida política de José Américo, sob o título O homem de Areia.
De todos, quero crer, José Américo de Almeida, o paraibano mais intenso e representativo da política (e da literatura) brasileira.
Luiz SerraProfessor e escritor
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