A POLARIZAÇÃO POLÍTICA E A MORTE DO DIÁLOGO NO BRASIL –

O cenário político brasileiro tem sido, nos últimos anos, terreno fértil para a ascensão de uma polarização cada vez mais tóxica e irracional. O que antes era uma arena de debates e troca de ideias transformou-se num campo de batalha onde não há espaço para divergência, apenas para hostilidade. Nesse ambiente inflamado, o valor de uma pessoa passou a ser medido não por sua integridade, conhecimento ou contribuição social, mas pela sua posição ideológica.

A polarização, em si, não é um mal absoluto. Em democracias saudáveis, a oposição de ideias é essencial para o equilíbrio e avanço das instituições. O problema surge quando essa oposição se converte em intolerância e fanatismo, quando o adversário político passa a ser visto como um inimigo a ser destruído, e não como um cidadão com visões diferentes. Essa lógica binária – “nós contra eles” – empobrece o debate público e fragiliza os pilares da democracia.

O Brasil vive, hoje, um ciclo vicioso onde a racionalidade é abandonada em prol de narrativas emocionais, simplificadas e muitas vezes falsas. O uso político de desinformação, o culto à personalidade de líderes e a criminalização da opinião divergente têm feito com que a sociedade se divida de maneira agressiva, intolerante e, em muitos casos, violenta. A consequência é um ambiente social e político onde o diálogo se torna impossível e o consenso, inalcançável.

Essa divisão artificial e fomentada por interesses escusos mina a convivência pacífica, rompe laços familiares, enfraquece amizades e desumaniza o “outro”. Não se reconhece mais a importância do contraditório nem se valoriza a escuta. Ao contrário: quem pensa diferente é tachado de ignorante, corrupto, traidor da pátria ou inimigo da moral. Cria-se, assim, um ciclo de retroalimentação do ódio que apenas beneficia os que lucram com o caos.

É urgente que a sociedade brasileira recupere a capacidade de ouvir e dialogar. É preciso revalorizar o pensamento crítico, a empatia e o respeito mútuo. Discordar não pode ser sinônimo de desrespeitar. A pluralidade de ideias é um sinal de saúde democrática, e não uma ameaça.

Enquanto a polarização for tratada como trincheira e não como debate, continuaremos a perder como nação. Perderemos talentos, perderemos a capacidade de construção conjunta e, acima de tudo, perderemos nossa humanidade.
São Gonçalo do Amarante-RN, 06 de abril de 2025.

 

 

 

Raimundo Mendes Alves – Advogado e vereador

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