A POLÍTICA DO ÓDIO QUE RESSUMBRA NA MÍDIA E REDES SOCIAIS –
Kant advertia que somos feitos de madeira empenada e estamos longe de poder considerar-nos morais, logo forças poderosas seriam necessárias para domar nossa natureza distorcida, daí a ética de Kant ser fundamentada no dever. Esse, rigoroso e intransigente, se opondo às inclinações animais do homem. A aliança entre razão e egoísmo trouxe a incontrolável perseguição a desejos descarados e indevidos. O modernismo trouxe ao caldo outros ingredientes, o subjetivismo e o relativismo, a crença de que a vontade e o desejo imperam, e, como colocado por Stephen R. C. Hicks “a sociedade é uma batalha de vontades antagônicas, que as palavras são apenas instrumentos na luta de poder pela dominação e que vale tudo no amor e na guerra”. Afinal, Nietzsche e Heidegger, entre outros, falavam da nova linguagem do pensamento, onde a razão está descartada e o que importa é a vontade, a paixão e o comprometimento. No discurso pós-moderno há uma rejeição expressa à verdade e à elaboração de uma narrativa onde a coerência é rara. A cólera e o niilismo são ferramentas poderosas para disseminar a destruição. Nietzsche destacou em Aurora “quando alguns homens não conseguem realizar seus desejos, exclamam raivosamente – Que o mundo todo pereça. Essa emoção é o ponto alto da inveja”. Peter Hatemi e Zoltán Fazekas dizem que a política oferece o teatro ideal para que o narcisismo se expresse, e a sociedade se transformou em uma guerra de facções, onde grupos polarizados tentam promover seus interesses próprios às custas dos outros. Todo indivíduo com acesso à internet tem um palco para expressar sua raiva prontamente diante de milhares de pessoas. Os interesses são diversos, mostrar indignação, grandeza ética, preocupação social, tudo isso num exibicionismo moral colocado estrategicamente para impactar. Há um novo campo de comunicação surgindo “moldado por conflitos enraizados na estrutura contraditória de interesses e valores que constitui a sociedade”, diz Manuel Castells, completando “atores sociais e cidadãos individuais estão usando a nova capacidade de comunicação em rede para promover seus projetos, defender seus interesses e afirmar seus valores”. Gertrudes Himmelfarb, em os caminhos para a modernidade, fala em senso, sentimento moral, virtudes, benevolência, empatia, compaixão, companheirismo, tudo isso como conceitos morais que estavam no coração do Iluminismo britânico. Esse mundo é forte, ativo e exuberante. No pós-modernismo, dominado pelo niilismo, a realidade é inacessível, nada pode ser conhecido, o potencial humano não é nada, os ideais éticos e humanos resultaram em nada. A resposta a tudo isso é no dizer de Stephen Hicks “raiva e desespero. À raiva e ao desespero somou-se o ressentimento”. O que resta ao que se considera perdedor, do lado derrotado da história, enfrentando um mundo dominado pelo capitalismo, pelo liberalismo, pela ciência, tecnologia, e por pessoas que apostam na realidade, na razão e no potencial humano? A destruição. Mas as únicas armas no pós-modernismo são as palavras. As relações humanas acontecem com um mínimo de manobras em busca de status, colocam Brian e Tom em Algoritmos para viver, “em geral, qualquer par de pessoas pode dizer, sem precisar negociar, quem supostamente deve demonstrar qual grau de respeito por quem. Todos sabem onde se encontrar”. O ódio destilado nas mídias e redes sociais é fruto de um pensamento pós-moderno que defende a ideia de que a política fracassou, e não só a política, mas tudo fracassou. Esse ódio crônico encontra sua expressão na destruição. O padrão comum de relativismo e subjetivismo, caminha incrivelmente ao lado do absolutismo dogmático. Observando essa contradição, Stephen Hicks conclui que o pós-modernismo é um movimento político que usa como arma o subjetivismo e o relativismo, que são secundários ao seu fundamentalismo dogmático. Para isso, “as palavras nem mesmo tem que ser verdadeiras ou coerentes, o que importa é o estrago que causam”.
Geraldo Ferreira – Pres. SinmedRN
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