A PRIMEIRA MULHER –
“Tentada por uma serpente, o animal mais ardiloso que Deus criou, Eva comeu do fruto proibido da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, para adquirir entendimento, e fez com que Adão também o comesse.” – Genesis 3.
Devido ao fato de Eva ter partilhado com Adão o fruto da árvore proibida, justificou-se por longos anos, no cristianismo, uma suposta inferioridade da mulher. Principalmente, porque, após o pecado original, Deus disse que a mulher seria governada pelo marido.
Para Eva, a primeira mulher que Deus criou, usando uma costela de Adão, ser expulsa do Paraíso foi uma tragédia. A maldição de Jeová tombou, principalmente, sobre ela e seu destino. E sobre sua felicidade na terra. A partir de então, iria sofrer as dores do parto, para a multiplicação da espécie. Era sobre ela que iriam recair as penas, os trabalhos e os cuidados da vida doméstica. Em suma, era sobre ela que iriam pesar as preocupações do vestuário e a mudança cotidiana da folha de parreira. Por isso, foi com o coração em pedaços que Eva deixou, para sempre, aquele abençoado domínio do Senhor, o Paraíso.
Expulsos do Éden, onde não havia tristeza, Adão e Eva baixaram a cabeça, e partiram tristes, humilhados e abatidos, para a horrível solidão do degredo. Logo que ultrapassaram os limites do grande jardim das delícias, nossa primeira mãe não pôde mais abafar o pranto. E pela primeira vez, Eva chorou. Caiu na dura realidade do Paraíso perdido. Seus belos olhos se encheram de lágrimas, como se fossem violetas tocadas pelo orvalho. E à medida que ela e Adão iam andando, suas lágrimas iam caindo uma a uma, dos seus grandes olhos, e assinalavam na areia, como pérolas do mesmo colar, as curvas do seu caminho. Porém, no dia seguinte, ao amanhecer, o rosto da primeira mulher iluminou-se de uma divina felicidade.
Marcando os seus passos no Deserto, a areia parecia semeada de pequenas flores em forma de estrela, brancas como a inocência e cheirosas como um imenso jardim.
E assim, das lágrimas da primeira mulher, nasceram as flores.
Violante Pimentel – Escritora