A QUE PONTO CHEGAMOS – Ana Luíza Rabelo

A QUE PONTO CHEGAMOS –

Já houve um tempo que era possível dormir com as janelas abertas para aplacar o calor, os terraços de nossas casas tinham cadeiras e redes e, através do muro baixinho, víamos os “passantes” enquanto conversávamos “amenidades”. A violência está por todo lado e não somos capazes de protegermos a nós ou aos nossos, independente dos recursos que tenhamos à disposição.

Hoje, os terraços vazios guardam lembranças do que o “dono” levou. A prisão que construímos ao nosso redor não nos protege e serve apenas como lembrete constante do medo que se alastra até nas cidades pequenas. O crescimento econômico do país parece ser proporcional à insegurança, e as promessas de campanha não passam disso, promessas que em nada contribuem para o bem-estar da sociedade.

Em épocas passadas, o trabalho árduo era recompensado com a melhoria da qualidade de vida, e esse trabalho, nos dias atuais, tem como recompensa o medo. Medo de trocar de automóvel, de reformar a casa ou de adquirir uma boa televisão ou computador, pois, como sabemos, qualquer sinal, por menor que seja, de crescimento patrimonial atrai os “olhos gordos” dos bandidos. Todo esforço é premiado com um furto ou um assalto e ficamos “sem ver navios” enquanto levam embora o fruto do nosso suor.

Notícias, outrora esparsas, sobre crimes que eram ocasionalmente tópicos de conversas em tons de surpresa e admiração, hoje são lugares-comuns e, sobrepondo-se às importantes e bem-humoradas conversas em família, temperam nossas refeições, com direito a gritos e indignação dos apresentadores dos indigestos “programas policiais”.

Foi-se o tempo em que dormíamos tranquilos enquanto as crianças brincavam e se divertiam em festas, foi-se o tempo que os adolescentes iam e voltavam de suas “baladas” (que também tinham outro nome) sãos e salvos.

A paz, tão buscada em termos mundiais, dá espaço à aflição diária e nos tornamos carcereiros de nossas próprias vidas sob o império do terror.

Há quem culpe os avanços da tecnologia. Eu, particularmente, culpo com veemência a banalização e uso indiscriminado das drogas, sendo as lícitas tão culpadas quanto as ilícitas. Em uma busca mais profunda, somos todos responsáveis pelo caos atual quando falhamos em nosso dever de orientar os filhos do Brasil. Quando ensinamos que o dinheiro, a etiqueta das roupas e a marca do carro são medidores de caráter mais eficazes que o respeito, a educação e a boa índole, nos tornamos diretamente culpados por nosso próprio futuro.

Cabe aos pais, independente do poder aquisitivo, ensinar o respeito, o valor do trabalho e a importância da retidão de caráter. É dever de cada um escolher seu caminho na mesma medida em que é direito conhecer as alternativas. Todos nascemos com a chance de ser bom ou ruim, e a condução para o caminho certo começa em casa.

 

Ana Luíza Rabelo Spenceradvogada (rabelospencer@ymail.com)

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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