A RECUPERAÇÃO DO SEMIÁRIDO –

O Semiárido do Nordeste vem enfrentando desafios para recompor sua economia, que tem na produção agropecuária uma forte aliada. Dependente da disponibilidade hídrica, a agropecuária nordestina ainda sofre com as consequências da estiagem prolongada, sobretudo em função do regime de chuvas que ocorre de fevereiro a maio, abrangendo os estados do CE, PI, MA e partes do RN, e das chuvas que acontecem de abril a julho, na região litorânea, que vai da BA até o RN, onde à pluviometria é mais generosa.

Mesmo com as precipitações ocorridas este ano, o volume d’água acumulado nos maiores reservatórios e barragens do Semiárido tem sofrido restrições, tanto para irrigação, quanto para consumo humano, ou mesmo para fins industriais, o que tem contribuído para à redução ou estagnação das atividades econômicas, na região. Dados da Agência Nacional de Águas(ANA), indicam que dos reservatórios monitorados no Semiárido, apenas 10% possuem condições para garantir o uso múltiplo de suas águas, pelos próximos 18 meses. Os 90% restantes apresentam restrições para a captação de água, sendo que 60% destes estão em situação de escassez hídrica, o que limita à pequena irrigação e até o abastecimento das cidades.

No RN, às chuvas de fevereiro/maio possibilitaram uma pequena melhoria na acumulação dos reservatórios da bacia do rio Piranhas/Assu, hoje com volume médio de 27,1%, sobretudo em função da barragem Armando Ribeiro, que acumula 2,4×109/m3 e que, atualmente, está com 26,5% deste total.          O mesmo acontece com os açudes da bacia do rio Apodi/Mossoró, no momento com volume médio de 33,4%, que conta com a barragem de Santa Cruz, que recuperou 26,4% de sua capacidade, e com o reservatório de Umari, que tem hoje 42,5% de seu volume projetado. Essas restrições no uso da água nas principais bacias do RN, impactaram as atividades econômicas no Semiárido potiguar, pela queda no efetivo bovino e pela redução no número de estabelecimentos agrícolas.

No Ceará, a barragem do Castanhão que foi construída para apoiar à agricultura da região, e abastecer Fortaleza e sua região metropolitana, atingiu ao volume morto. Ás últimas chuvas ocorridas em sua bacia, possibilitaram à recuperação de apenas 6,8% de sua capacidade. O colapso na operacionalização do Castanhão, vem reduzindo à oferta d’água para o consumo nas cidades, para à produção e comercialização de pescado (1.000 ton/mês em anos normais) e para o plantio de culturas nos  perímetros irrigados existentes, cuja produção vem encolhendo ano a ano.

Na Paraíba, o açude Boqueirão chegou a 34,0% de sua capacidade, obrigando o racionamento d’água em Campina Grande. Com a chegada das águas do Eixo Leste da transposição do São Francisco, o racionamento foi suspenso. Todavia, manteve-se às restrições da água para irrigação e fins industriais, sendo liberado seu uso apenas para à agricultura de subsistência. Nos açudes do sistema Curema/Mãe D’água, que devem receber água da transposição, a queda na acumulação foi mais severa, registrando 18,8% em Curema e 9,7% no Mãe D’água, comprometendo à produção de alimentos, no sertão paraibano.

Em Pernambuco, das 32 barragens situadas no sertão, 18 entraram em colapso durante a estiagem prolongada. Barragens maiores como Entremontes, no Sertão Central, e Saco II, no Sertão de São Francisco, há muito não recebem água. No Agreste, a barragem de Jucazinho, projetada para abastecer essa região, está ha mais de 01 ano literalmente seca. No reservatório de Sobradinho, que recuperou este ano 29,0% de sua capacidade, foi possível flexibilizar água para à fruticultura em Petrolina(Pe) e Juazeiro(Ba), para atender os produtores que reclamavam do racionamento e dos prejuízos sofridos com à perda de 15%, na safra.

Apesar de algumas grandes obras hídricas realizadas, os números evidenciam as dificuldades de se recompor a economia do Semiárido. Sem invernos regulares, sem à interligação de bacias hídricas, em alguns  estados, e sem à recorrente conclusão das obras de transposição das águas, que poderiam suplementar à necessidade desse recurso, nos períodos críticos, dificilmente poderemos produzir e ofertar alimentos e matérias primas, disponibilizar água para o consumo humano e animal e gerar ocupação, renda e tributos, no meio rural.

 

Antoir Mendes SantosEconomista

 

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