A SAUDADE FICA –

Pensei, refleti, insisti, mas não dá mais. Deixo o campo dos peladeiros nesse sábado (13/07/19). Tarde de inverno contrastando com um belo sol de verão. Um bom gramado verde, com suas marcações alinhadas e duas equipes vestindo azul e amarelo, prontas para iniciarem o recreativo embate.
A idade, o sobrepeso pedem e exigem prudências. Os joelhos, já cansados, clamam por repouso e cuidados especiais para com as suas severas artroses.

Em campo, só caminho, não tenho mais condição de correr, muito menos das disputas corpo a corpo, tão exigido e necessário na prática do futebol. Não é justo! Não faz o meu estilo; eu, que sempre fui muito participativo e guerreiro nos acirrados confrontos. Reconheço o momento; já é chegada a hora de parar. Passei até do tempo! Mas o exercício do futebol me impregnou e me embriagou. Sentirei saudade, muita saudade, por aquilo que iniciei e pratiquei durante mais de sessenta anos de vida. Os olhos lacrimejam, a respiração ofega e o coração acelera. Mas o que fazer?

É a vida, na sua real essência.

Tudo começou na década de 1950, nos campos de futebol improvisados nas largas ruas de areia frouxa do bairro do Tirol. Tive, na verdade, uma ascensão e uma passagem rápida no futebol, o esporte mais popular e mais admirado no mundo.

No início da década de 1960, comecei a minha curta trajetória como atleta nas competições oficiais da cidade. Assinei o meu primeiro contrato profissional com 19 anos.

Não demorou muito a aparecerem os resultados: três vezes campeão da cidade: 1963/1964 e 1967, quando encerrei a carreira pelo América F.C.; em 1962, a gloriosa participação na Seleção de Futebol do Rio Grande do Norte, no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

No final do século XX, fui honrosamente lembrado, pela imprensa esportiva, para compor a equipe do século do Alecrim Futebol Clube. Uma vitória! Um sonho realizado.

Deixando o futebol profissional, iniciei a minha participação efetiva no futebol recreativo – a pelada, juntando-me a um seleto grupo de peladeiros, amantes e praticantes do bom futebol.

Foi assim que cruzei todos esses anos, com muita participação, prazer e, o melhor, multiplicando amigos e consolidando amizades.
Afasto-me definitivamente da atividade esportiva. Deixo o convívio das quatro linhas, mas permaneço na companhia dos amigos peladeiros nas resenhas pós-jogo. Serei um exigente observador fora de campo, um analista imparcial e, vibrarei sempre com as suas belas e bem elaboraras jogadas. Saio do campo de jogo e entro no campo da memória.

“Saudade: presença dos ausentes”, Olavo Bilac.

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor –  [email protected]

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