A TERCEIRA PESCA MILAGROSA –
As duas primeiras Pescas Milagrosas ocorreram no chamado Mar da Galileia. A outra, em praia do Rio Grande do Norte no município de Nísia Floresta. Digo à maneira de Gonçalves Dias: Meninos, eu vi!
Foram dois os milagres. No primeiro, Jesus está sentado em um barco de Simão Pedro, perto da praia. Nas margens, o povo o ouvia. Depois, mandou que os pescadores se fizessem ao largo e lançassem a rede. Os pescadores objetaram que as sucessivas tentativas foram inúteis. Mas obedeceram. E as redes se encheram de peixes.
No outro evento, Jesus está de pé na praia. Já havia ressuscitado. A Bíblia quantifica que foram pescados 173 grandes peixes.
Em tatuagem, o peixe é símbolo de saúde. Em todo o Nordeste animais de estimação recebem o nome de peixe para que não adoeçam: peixinho, xaréu, serigado. É famosíssima a cadela Baleia na obra magistral de Graciliano Ramos. Vale a pena lembrar que na China peixe é sinal de sorte e abundância. Não seria este o caso?
O poeta macauense Gilberto Avelino, que conhecia os segredos do mar, antevia: “Pescas…. para o humano contentamento, a paz, a fome”. Foi o que aconteceu.
Eu me acostumara com a presença amiga do pediatra Nei Fonseca cuidando dos meus filhos e netos. Não tinha notícia das suas habilidades na arte de pescar. Nem dos seus companheiros.
Há vinte e cinco anos, escrevi: “A MEMÓRIA DE JURAMENTO” que, agora, feliz, recebo cópia do destinatário. Eis o texto:
Faço juramento sobre os Santos Evangelhos pondo a minha mão direita sobre o Livro e, com boa e sã consciência, pelo fato, posso jurar que no Ano de Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e oitenta e dois, em claro e azul domingo, cerca de sete da manhã, na Praia de Cotovelo, propriedade do mágico escritor Oswaldo Lamartine, assisti e meus olhos viram A Pesca Milagrosa, versão nordestina. Com uma rede de tresmalho estavam pescando o Patriarca Osório Bezerra Dantas, o Médico de Menino Nei Fonseca e seus amigos de fé: Gilberto Sá, Ricardo Ivan e Fernando Nesi. De súbito, a rede se encheu de peixes, grandes e pequenos, em tal quantidade que ficou bojuda, sobejando por cima e por baixo, contornando a onda. Acudiram alguns pescadores no insuficiente esforço de retirar do mar os peixes, conhecidos em nossas praias com nome vulgar de boca-mole. Soube depois, e isso só posso afirmar por ouvir dizer, que o pescado foi distribuído a mancheias em Pirangi. Teria o Dr. Nei Fonseca, alto em sua comemoração, oferecido peixe de porta em porta, estabelecendo diálogo, mais ou menos assim:
– Dona, a senhora quer peixe?
– Não senhor, obrigado.
– Mas é de graça…
– Então, vou buscar a caçarola.
Por ser conforme a verdade por mim sabida, fique este na memória e para exemplo dos vindouros.
Em 05 de setembro de 1995, está por mim assinado.
O admirável Osório Dantas, filho do Profeta de Natal, Manoel Dantas, foi o grande documentarista de nossa cidade. Por isso, é bom tentar imitá-lo, mesmo canhestramente. Todos os participantes são cristãos. Peixe é tradicionalmente símbolo sagrado do Cristianismo. Não teria sido esta pesca um sinal de Jesus?
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN