A TIRANIA DA FELICIDADE –
No livro “A Euforia Perpétua”, o romancista francês Pascal Bruchner, diz que a felicidade hoje se tornou uma tirania. Diz ele: “As pessoas vivem obcecadas em conquistá-la como a uma propriedade. Já que as pessoas correm a vida inteira atrás dela, a felicidade vira uma inquietação permanente e passa a fazer parte do território da angústia”.
A escritora e jornalista Eliane Brum, alerta: “Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. Existe a crença que a felicidade é um imperativo, que é possível viver sem sofrer, que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia”. Dentro dessa concepção, muitos estão incapacitados para lidar com a frustração.
A Teologia da Prosperidade igualmente apresenta o bem-estar como um imperativo e — pior — um imperativo decorrente da fé. No entanto, está muito claro, de acordo com Martin Lloyd Jones, em seu livro “Mensagem para Hoje” que “não há parte alguma da vida cristã isenta de perigos. Face o ensino do Novo Testamento, nada é tão falso como dar a impressão de que no instante em que você crê e se converte, acabam-se todas as dificuldades”.
A verdade é que existe uma ideia errônea do que é a verdadeira felicidade e que pode ser a principal causa da infelicidade. A felicidade não tem ligação com a ausência de embaraços, dificuldades, imprevistos, oposição ou embates. Antes, a presença destas coisas exercita e valoriza a vida. Muitas vezes quebram a rotina e servem de degraus para que alcancemos posições mais altas. A felicidade não depende de circunstâncias favoráveis. Se fosse circunstancial, ela seria instável, transitória, incerta. Ela não se apoia em fatores que nem sempre estão sob o controle humano. A felicidade não é resultado da satisfação de todo desejo do coração. Os nossos desejos frequentemente são contraditórios e surgem de fontes opostas entre si. Qualquer pessoa descobre que a não satisfação de certos desejos, conquanto fortes e audaciosos, resulta em extraordinária felicidade. A felicidade não significa uma aceitação silenciosa e compulsória das dificuldades existentes, como se fossem determinadas por Deus. A resignação é virtude cristã e preciosa, mas não deve ser confundida com a indisposição para a luta ou com o medo, com a covardia ou a falta de fé.
Finalmente, entender que a felicidade nunca acontece em uma sala fechada em cuja porta, do lado de fora, uma tabuleta avisa: “NÃO ENTRE SEM SER CHAMADO”. A felicidade não depende do isolamento, do silêncio, de calmarias, de acessórios e assessores, da ginástica do chamado “Pensamento Positivo”, da repetição mecânica de orações e de frases otimistas, de mentiras inteligentes e bem elaboradas. Ao contrário, a felicidade tem de conviver com a maldade, com o sofrimento, com a inimizade alheia, com a morte, com a realidade presente e histórica.
Josoniel Fonsêca – Advogado e Professor universitário, membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, [email protected]