A UM PASSO DA DESERTIFICAÇÃO –
O Seminário Motores do Desenvolvimento, promovido pela Fiern e que tratou das perspectivas para o desenvolvimento do Semiárido, também serviu para reacender a preocupação com o severo processo de desertificação a que está submetida essa região nordestina. Dados atualizados do Ministério do Meio Ambiente(MMA), indicam que 16% do território brasileiro estão sujeitos a esse processo, algo em torno de 1,3 milhão de km2.
Como é sabido, o desmatamento da caatinga para a agricultura e pecuária, a atividade de mineração, a extração de argila, a retirada de madeira e o processo de salinização dos solos, em decorrência do uso da irrigação não controlada, são às principais causas do avanço da desertificação. No caso do Semiárido nordestino, a existência de Áreas Susceptíveis de Desertificação(ASD) já deram origem à formação de quatro núcleos de desertificação: Cabrobó, em Pernambuco com área estimada em 5,9 mil km2; Gilbués, no Piauí com área de 6,1km2; Irauçuba, no Ceará com área prevista de 4,0 mil km2; e Seridó, no RN e PB com área de 2,3 mil km2.
A exemplo do que ocorre no contexto nordestino, o processo de desertificação no RN também assume proporções preocupantes. No nosso caso, às áreas susceptíveis de desertificação correspondem à quase totalidade do território potiguar, algo em torno de 159 municípios dos 167 existentes. Ademais, 24% do território seridoense são áreas consideradas em processo crítico de degradação, sendo que os municípios de Currais Novos, Acari, Equador, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Jardim do Seridó e Parelhas constituem a área piloto de desertificação no Estado.
Diagnóstico realizado pela Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó(Adese) em 2008, sobre o uso da lenha nas mais diversas atividades agroindustriais na região seridoense, permitiu quantificar o consumo da lenha como principal matriz energética. É importante ressaltar a relevância desse estudo, pois, até então, não tínhamos parâmetros para mensurar esse consumo, que trouxe à tona a realidade da devastação da vegetação exótica ou nativa, através da identificação de 17 atividades produtivas nos municípios que compõem o Seridó potiguar.
O trabalho indica que às cerâmicas, caieiras, queijeiras e carvoarias são os quatros maiores segmentos que consomem madeira nessa região que, em conjunto, eram responsáveis pelo uso de 28.122 metros/estéreos mensais de lenha. Só às cerâmicas, concentradas em Parelhas e Carnaúba dos Dantas, consumiam 22.947 metros/estéreos por mês, ou seja 81,6% de toda à madeira consumida pelas atividades pesquisadas. Por seu turno, a panificação também representava um consumo elevado de recursos florestais para o fabrico do pão, o mesmo acontecendo com as casas de farinha. Na região existiam 84 panificadores que consumiam 1.101 metros/estéreos mensais ou 13.212 metros/ano de madeira para o fabrico de pães, bolachas e biscoitos, enquanto que as 34 casas de farinha existentes, em sua maioria na Serra de Santana, demandavam 750 metros/estéreos mensais ou 9.000 metros/ano, tendo o cajueiro como espécie mais utilizada para essa atividade.
A indústria de caulim também contribuía para o desmatamento e consumo de lenha, sobretudo no processo de secagem. Concentrada no município de Equador, essa atividade exigia um consumo de 860 metros/estéreos ou 8.600 metros/ano. Igualmente, as cinco indústrias de laticínios da região também utilizavam à algaroba, na sua matriz energética, estimando-se que o consumo dessa espécie nativa era de 486 metros/estéreos mensais ou 5.832 metros/ano, muito embora havia o aproveitamento de energia elétrica no processo produtivo. Complementando as atividades que mais se utilizavam da vegetação como fonte de calor, está a indústria de sabão e margarina, que consumia cerca de 440 metros/estéreos de lenha durante o mês ou 5.280 metros/ano.
É importante lembrar que se dependesse do acervo de estudos técnicos e acadêmicos disponíveis sobre o Seridó, fatalmente a região poderia conviver com um melhor equilíbrio entre a necessidade de exploração econômica de seus recursos naturais e a manutenção do desenvolvimento sustentável. Todavia, nem sempre a disponibilidade de conhecimento acadêmico é a garantia para que tudo aconteça.
Antoir Mendes Santos – Economista
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