A VIAGEM –
Arrumei minhas malas, e resolvi viajar. Não tinha lugar certo, mas tinha que ir. Ir para onde? Vinha passando um senhor e eu perguntei para onde ele ia.
– Vou embora para Pasárgada!
– Mas por quê Pasárgada?
– Lá sou amigo do rei, tenho a mulher eu eu quero, na cama que escolherei.
Pensei logo, é comigo mesmo, com este que eu vou. Cidadão se mal não lhe faz a minha perguntar, qual é a sua graça?
Manoel Bandeira, ao seu dispor.
– Seu Manoel o senhor é mesmo amigo do rei?
– Não só amigo, como conselheiro.
– Olha seu Manoel vou correndo comprar minha passagem não vejo muito futuro para o nosso país, vou correndo, volto logo, já já…
Saí correndo para box da empresa de ônibus, e ao me aproximar vi um tumulto e o povo vaiando um careca, perguntei quem era aquele cidadão e me disseram que era um manda chuva e que pitacava em tudo. Pensei comigo mesmo, “Bem que merecia uns trancos”. Resolvi enfrentar a fera, mesmo sabendo que a única arma que eu tinha era uma caneta e uma folha de papei, Pensei comigo mesmo, este cidadão não pode agir assim, ele não é o dono do mundo.
Nesse tempo, o ônibus para Pasárgada partiu, perdi a viagem, fiquei triste. Chegou um cidadão, acho que com pena da minha tristeza bateu no meu ombro e perguntou.
E agora José?
– Cidadão meu nome é Augusto não é José! Era um cidadão magrinho de óculos, fala mansa e falou novamente
E agora josé? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.
Olhei para aquela figura franzina e pergunte
– Cidadão qual é o seu nome?
– Carlos Drummond de Andrade, mas me chame apenas Carlos!
– Carlos a situação atual do pais é crítica;
Ele pegou um papel e escreveu:
“ Sozinho no escuro
Qual bicho do mato
Sem teogonia
Sem parede nua
Para se encostar”
Percebi o que ele queria me mostrar, estamos em uma democracia frágil, onde interesses escusos estão acima da dignidade de um povo, da ordem pública.
Mas continuei sem saber para onde ir. Nisto, para na plataforma um ônibus, com uma imensa charanga e na placa de destino escrito Destino Tonga da mironga do kabuletê. Comprei a passagem e até hoje estou aqui.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN