A VIDA E SUAS ORIGENS – José Carlos Gentili

A VIDA E SUAS ORIGENS –

“A ascese será sempre a cura dos males.”

 

Tudo é ambivalente e cíclico no universo. Eis uma constatação cósmica constatada pelo homem em seu viver, frente à Natureza.

Por sua vez, a finitude são momentos vivenciais no contexto do infinito, das coisas imponderáveis. Assim, as criaturas começaram a perceber, cosmologicamente, sua existência no tempo. Eis aí a criação de uma permanente busca de suas origens e a constatação de linhas de pensamento, como se fosse um calidoscópio, onde se veriam sucessões de fragmentos do passado, do presente e do futuro, sucedendo-se de forma ininterrupta, cíclica, vertiginosa e multifacetada.

Hoje, basta constatar, ver, reler, repensar, discernir para, finalmente, afirmar que na esteira da vida, a História é o calendário dos acontecimentos.

A vida, diária e sucessiva, continua sua marcha inexorável no contexto da Natureza, que a tudo rege.

Os pensadores, em seus pensares, foram verificando que tudo tem começo, meio e fim no decorrer dos processos civilizatórios, há milênios.

Desde quando? Por quê? Qual a forma? Onde? Quem? – sempre foram as indefectíveis questões indagativas que jamais deixaram e deixam de existir.

A evolução darwiniana mostra-nos que a sobrevivência humana reside na adequação ao meio, quer na forma física, quer mentalmente. Isto é uma obviedade!

Mas desde quando os homens principiaram a promover registros, a expressar suas impressões, seus anseios, suas dúvidas?

A gênese reprodutiva é a raiz dos seres e a progênie, a sucessão infinita deste caudal corpóreo.

No início, os grunhidos, sob a proteção das cavernas, era a linguagem, o mimetismo a forma, a eternidade da fome a mover o instinto da sobrevivência.

Alimentar-se e reproduzir-se sempre foram as chaves desta engrenagem anímica, até a chegada do fogo. A chama foi algo inenarrável, indescritível até hoje e será, sem dúvida, sempre para nossos registros civilizatórios.

As cavernas ganharam luz, calor, vida, segurança, fortalecimento do instinto grupal, mais tarde dito familiar, a alterar o gentio, que passou a inscrever nas paredes figuras, desenhos, a registrar ideações e observações.

Encantam-me as inscrições rupestres, verdadeiras falas dos sentimentos e reflexões das almas! Instiga-me o redescobrir do desenvolvimento da fala, da comunicação!

Estas produções primitivas, protegidas até hoje, pelas cavernas mundo afora, somente agora começam a ser fixadas no tempo do mitológico Cronos, pelo advento do Carbono l4, a determinar nuances das rupturas da faixa existencial.

Os interesses religiosos e de poder, sempre estão a pretender primazias existenciais para sortilégio de suas criações e regramentos.

A História sempre foi manipulada por interesses grupais, a reescrever-se de acordo com as constatações e a difusão das verdades. Daí, Miguel de Unamuno y Jugo afirmar que a História é o conjunto de histórias (estórias).

Atualmente, fontes censitárias projetam que o orbe (8 bilhões de viventes), está imantado, religiosamente, assim: Cristianismo (31,4%), Islamismo (23,2%), Hinduísmo (15%) e de um grupo cada vez mais crescente de seres a aproximarem-se da metade da população humana, a perfilhar-se entre ateus e ateístas, que não precisam de um Deus para viver e desenvolverem suas vidas terrenas.

Interessante que nos primórdios civilizacionais as criaturas cultuavam o Sol, o Fogo e tantas outras projeções inexplicáveis, acima da cerebrações das épocas.

É neste revezamento de pensares, que SETE MIL ANOS ANTES DO CRISTO (século VII a.C.) o avatar Zaratrusta, do Império Aquemênida estabeleceu uma nova visão do culto, mostrando às sociedades que aquele modo de cultuar uma profusão de divindades, seria substituído pelo monoteísmo, singular, enfeixado entre o Bem e o Mal.

Assim, deixou-nos um livro – o Zend-Avesta – (o livro de Ghatas), com cerca de 12.000 fragmentos de couro, que chegaram até nós, expondo 17 cânticos. (“O que semeia o milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado.”)

A propósito, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2003, celebrou os 3.000 anos do pensamento zoroastroniano, relembrando-nos que as religiões “recentes” – o judaísmo, o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo – monoteístas –, promanaram dos seus ensinamentos e ideações, fixados entre os limites do Bem (Aúra Masda) e do Mal (Arimã).

Não se pode esquecer que os aquemênidas venceram os turbulentos medas e Dario I implantou a escrita cuneiforme, determinando o aramaico como língua administrativa do império, estabelecendo os ensinamentos de Zoroastro como religião oficial.

Heródoto (485.C.-425 a.C.) sucessor de Hecateu de Mileto, cognominado o Pai da História, nascido em Halicarnasso (hoje Bodrum/Turquia), deixou-nos ensinamentos e reflexões, consubstanciadas no livro As histórias de Heródoto.

Por sua vez, Ésquilo, dramaturgo grego (456 a.C.), reverberou, mitologicamente, a criação do Fogo, fonte de energia, gerada por Prometeu, responsável pela iluminação do mundo e o desenvolvimento dos seres em seu processo civilizatório.

O fogo é vida a crepitar nas  almas dos seres, indefinidamente.

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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