A VIOLÊNCIA E A MULHER –
Se existe uma coisa para me deixar fulo da vida é assistir impotente o crescimento sistemático da violência contra a mulher mundo afora. Não apenas em países onde a submissão da fêmea ao macho é cultural, mas sobretudo, naquelas nações ditas desenvolvidas ou em fase de crescimento. É de arrepiar cabelos acompanhar dados estatísticos e constatar que no Brasil também sabemos, e muito bem, maltratar e matar mulheres com crueldade.
É comum associarmos a violência contra a mulher somente a agressões de natureza sexual e no sentido literal do termo. No entanto ela se manifesta através de diferentes formas e gêneros. Vai da violência doméstica e no trabalho, passa pelo abuso e exploração sexual, desonra psicológica e restrição econômica, até alcançar formas mais sutis como o assédio sexual, a discriminação e a desvalorização do trabalho doméstico e profissional.
Condenamos com veemência agressões contra mulheres em outros países, mas cá entre nós, exercitamos uma revolta apática e inconsistente quando a prática é aplicada contra nossas próprias mulheres.
Repelimos a prática corriqueira de estupros e mortes de mulheres na Índia; estranhamos e nos revoltamos contra as cenas de violência envolvendo fêmeas submissas a marmanjos no Oriente Médio. Entrementes, quais as providências postas em ação para coibir casos de agressões femininas no Brasil?
Nossos números teimam em crescer. Embora avanços tenham sido alcançados com a Lei Maria da Penha, ainda assim não atende ou não pune a contento os infratores correlatos. Em 2020 ocorreram 105 mil casos de violência contra a mulher, 4,8 assassinatos para cada grupo de 100 mil mulheres. Tais números nos brindam com a 5ª posição no ranking mundial entre 83 países, abaixo apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.
Ah, tem mais! Quem já ouviu falar de revista vexatória? Ela acontece em presídios brasileiros para evitar a entrada de mulheres portando drogas, armas e chips de telefones celulares. Não existe procedimento mais humilhante contra a dignidade feminina.
Agentes carcerárias obrigam as visitas a se despir completamente, agachar sobre um espelho posicionado no chão, e durante três vezes contrair os músculos e abrir com as mãos anus e vagina numa revista obscena. Existe, sim, a necessidade de coibir a entrega de produtos proibidos a apenados, mas já não é sem tempo a implantação de inspeções menos vergonhosas.
Mulher, um ser cantado e exaltado em verso e prosa sendo tratada como animal selvagem e de forma despudorada, não dá para conceber a contradição. Nunca concordei com a “gracinha” de Vinicius de Morais no poema “Receita de mulher”, ao insinuar: “…que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. No meu entender, todas as mulheres são bonitas.
Seja de uma forma ou de outra, pois sempre encontraremos algo especial em cada uma delas. Um sorriso, um olhar, uma curva, um gesto, basta um pouco de perspicácia e desvendaremos o mistério. Sensível como uma flor ou consistente como uma rocha, as mulheres são criaturas incríveis.
Perdoem-nos a cegueira e a irracionalidade, pois não atinamos ainda para o mal que estamos causando favorecendo a violência contra vocês, mulheres.
José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil