A VOZ DO POVO –
Os homens calvos sempre se distinguiram entre as pessoas, impondo um ar de superioridade e respeito.
Quando eu era criança, tinha medo de homem calvo. O único calvo que eu admirava era o palhaço Carequinha, artista nacional que encantava a criançada, com suas cantigas infantis inesquecíveis.
Na verdade, antigamente, calvar ou descalvar a terra era abater a vegetação que cobria um cimo de monte, ficando a elevação despida de arvoredo.
Séculos atrás, ficar com a calva à mostra, era uma pena aplicada a um condenado, por ter se portado covardemente numa batalha, fugindo do posto que lhe fora confiado, ou praticando atos de vilania. O condenado tornava-se indigno do título e situação de fidalgo, e tinha a cabeleira cortada pelo carrasco, seguindo-se a sua expulsão das hostes privilegiadas.
Esse ato era uma humilhante punição, e acontecia na presença de todos os antigos companheiros.
Cabelos longos eram atributos da nobreza. Um condenado, portanto, jamais poderia ter cabeleira bonita.
O condenado a expor a calva jamais se reabilitaria perante a sociedade. Ficava marcado para o resto da vida, como um bandido. Mesmo que tivesse sido nobre, a partir da condenação à calva, passava a ser um plebeu miserável e um covarde por todos conhecido. Sua reabilitação era impossível.
Nos dias atuais, a evolução da cibernética tornou pública a exposição do infrator, com a exposição dos seus supostos crimes, sendo omitidos os seus direitos.
Os chamados direitos humanos só existem no papel.
Assim como os podres poderes, os presídios estão cheios de homens vazios e descrentes de tudo, à espera de um julgamento correto, que dê uma solução rápida às faltas que lhe foram imputadas. Enquanto criminosos cumprem pena fora da prisão, inocentes continuam na cadeia, cumprindo prisão preventiva infindável, o que acontece ao arrepio da lei.
E assim “caminha a humanidade”. Até quando?
Mudando o rumo dessa prosa:
No interior nordestino, o caloteiro contumaz tem fama de não pagar nem promessa a santo.
Há caloteiros de carteirinha, desonestos por compulsão. Incomodam pessoas conhecidas, sabendo que quem lhe emprestar dinheiro, já perdeu. O empréstimo irá para o “tinteiro”. Jamais será pago. Os caloteiros compulsivos enganam até ao Papa. Se tiverem oportunidade, serão capazes de furtar até o dinheiro da coleta da Igreja.
A humanidade é dividida em duas classes: Os honestos e os desonestos.
Ninguém perde por ser honesto. O desonesto fica “sujo” para o resto da vida. É condenado pela opinião pública e perde sua dignidade.
Não existe remédio para regenerar uma pessoa desonesta, principalmente no meio político. A reabilitação é muito rara, senão impossível.
Séculos atrás, cabeça raspada era mau sinal. Hoje, já não é.
A opinião pública é decisiva, em determinados julgamentos. Vale a sentença ditada pelo povo.
E “a voz do povo é a voz de Deus” – diz o ditado.
Violante Pimentel – Escritora
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