A XANANA NA MESA –
Idealizei a cidade de Natal tendo uma flor como símbolo, assim como tantas cidades célebres. O poeta e vereador Franklin Capistrano apresentou projeto que foi elevado à sanção da prefeita Vilma Faria. Depois ela me disse que se emocionou ao sancionar aquele projeto.
Quando indiquei a simbologia poética, argumentei afirmando que a flor é símbolo poético da cidade de Natal pelos seguintes motivos: assim como a flor, apesar dos cenários adversos, a cidade tem a qualidade da persistência, da resistência, da beleza e da fortaleza. Agora relembrado.
A flor de Natal ultrapassou muito a finalidade do ato criador. A Xanana motivou poemas e canções, fotos artísticas e pinturas, passou a frequentar a internet, foi bolo premiado em concurso, enfeitou camisetas e biquinis. E muito mais. Animou um bloco de carnaval em Pirangi, chegou a participar de painel fotográfico da Câmara Municipal, ornamentou ruas da nossa cidade em nossas festas populares. E foi timbre de papéis públicos.
No território densamente poético do “Beco da Lama”, a Xanana pontificou como sensual. O escritor acadêmico Vicente Serejo justificou: “símbolo de uma cidade feminina, à flor das ruas não se pode negar a ambiguidade lasciva.”
Carlos Zens transformou a flor Xanana em beleza musical.
O povo já fazia uso floral como remédio quando mereceu admiráveis estudos transformados em livro, organizado por pesquisadores da Universidade Federal.
Participaram de sua elaboração a nutricionista e professora Michelle Jacob, o gastrólogo Nilson Cintra e a notável artista e promotora de eventos Angela Almeida.
O título (Culinária Selvagem – Saberes e receitas de plantas alimentícias não convencionais) já revela a importância do tema.
A Xanana está na mesa. É ingrediente para receitas criativas e saborosas. Podemos comer Xanana, uso autorizado por personalidades da UFRN.
O livro qualifica: “Subarbusto, solitárias, composta por cinco pétalas branco-amareladas com garganta preta, espontânea”. O subtítulo estabelece a propagação e cultivo frequentados por abelhas sem ferrão, abelha solitária.
O livro faz sugestões para o “Molho pesto de chanana e manjericão” por Michelle Jacob e “Suflê de chanana com tofu” por Deborah Sá. Além de, crua, poder fazer parte de saladas.
Para mim, o único defeito do livro é de natureza acadêmica: Xanana é escrito com cê agá e não com xis.
Em Natal, Xanana é com xis. O povo consagrou da mesma maneira que Potengi passou a ser com gê (e não com jota), Assu e Mossoró com dois esses (e não com cedilha) como recomendam os puristas regrados.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN