ABORTO:UM CRIME HUMANITÁRIO –
O que é um feto humano, senão o princípio da vida, após a relação de uma mulher e de um homem, como realizam os povos em seus processos civilizatórios há milhões de anos!
A gestação durante nove meses guarda um processo físico de total transformação, desde o momento em que o espermatozoide masculino alcança o óvulo feminino, dando início à fecundação de um novo ser, protegido pelo líquido amniótico, até a délivrance, como chamam os ginecologistas.
Sempre afirmo que os corpos não são donos das almas; mas sim, as almas é que ocupam os corpos numa ambivalência esotérica, espiritual.
As almas são infinitas, enquanto que os corpos guardam a finitude, regidos pela senectude.
A maternidade é algo mágico, transcendente, evolutivo, transformador da vida em outras vidas, a formar uma cadeia genética transbordante de historicidade.
Permitir o aborto é legalizar a morte, o fim da vida, irromper uma sequência vital, entronizar o crime como procedimento normal, virtuoso.
Trago à baila, fato inusitado, acontecido em Brasília, no dia 22 de dezembro de 1970, no Hospital da L2 Norte, quando o obstetra Manoel de Carvalho Branco Neto ao terminar a uma crítica cesárea de minha esposa Marilene, disse-me, de forma lacônica: “A criança nasceu, tem seis meses e não deverá viver 24hs”.
Os ossos do calcâneo inexistiam em sua completude, condição delimitadora do estado fetal.
– Respondi-lhe, também, com extrema serenidade e frieza – O Criador tem seus desígnios!
À época, meus amigos Dr. Victor Jacobina Lacombe e Dr. Ítalo Nardelli, criadores da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal, este último irmão do meu companheiro na Federal – Delegado Dante Nardelli, inauguraram a primeira incubadora vinda do Japão, cujo experimento se deu com o recém-nato em comento.
Duas abnegadas enfermeiras revezaram-se, diuturnamente, no comando do instrumento, considerando a sobrevivência do paciente como um verdadeiro troféu profissional.
Então, o feto redivivo foi incubado e assim permaneceu durante dois meses, quando alcançou o nono mês de nascimento/morte, deixando o hospital para encantamento dos familiares e alegria da vida.
Dei-lhe o nome de Luciano – filho da Luz!
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília