ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS – COMEMORAÇÃO DOS 85 ANOS DA FUNDAÇÃO –
Excelentíssimo Senhor Presidente, Diógenes da Cunha Lima, Excelentíssimas Autoridades aqui presentes ou representadas, Ilustres Confrades e Confreiras, Meus senhores, minhas senhoras,
Introdução
A Academia original foi uma escola fundada em 387 a.C., próximo a Atenas, pelo filósofo Platão. Nessa escola, dedicada às musas, se professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e os discípulos. O filósofo pretendia reunir contribuições de diversos campos do saber como a filosofia, a matemática, a música, a astronomia e a legislação. Seus jovens seguidores dariam continuidade a esse trabalho que viria a se constituir num dos capítulos importantes da história do saber ocidental. A escola era formada de uma biblioteca, uma residência e um jardim. Pela tradição, esse jardim teria pertencido a Academus – herói ateniense da guerra de Tróia (século XII a.C.) e, por isso, era chamado de academia.
A Academia Norte-rio-grandense de Letras – ANL é formatada no modelo da Academia Francesa, que foi fundada em 1635, por iniciativa do Cardeal Richelieu que obteve a autorização para seu funcionamento do rei Luís XIII, com a principal finalidade de tornar a língua francesa “pura, eloquente, e capaz de tratar das artes e ciências”. É composta por 40 titulares. Os primeiros ocupantes são os fundadores que escolhem os seus patronos.
No dia 14 de novembro de 2021 (domingo passado) a Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL) completou 85 anos. Nesse período tornaram-se imortais 144 escritores. Além dos 40 patronos, escolhidos em homenagem póstuma pelos primeiros ocupantes das cadeiras, ou seja, os fundadores. A numeração das cadeiras, de um a quarenta, é feita pela ordem cronológica dos patronos.
A nossa ANL foi pioneira na inclusão de mulheres em seu quadro de acadêmicos. Carolina Wanderley (cadeira 06) e Palmira Wanderley (cadeira 20) foram fundadoras em 1936, quando eram apenas 25 ocupantes. Havia como PATRONAS três mulheres: Nísia Floresta (Fundador – Henrique Castriciano) – cadeira 2, Isabel Gondim (Fundador – Matias Maciel) – cadeira 8 e Auta de Souza (Fundador – Palmira Wanderley) – cadeira 20.
A Academia Brasileira de Letras só permitiu 41 anos depois, em 1977, com Raquel de Queiroz e a francesa só 45 anos depois, em 1981, com Margareth Yourcenar.
No momento temos dois acadêmicos eleitos, que ainda não tomaram posse, e uma cadeira vaga. Só a título de curiosidade, em 2003, quando editei o livro “NA COMPANHIA DOS IMORTAIS” nos 67 anos da ANL, suas 40 cadeiras haviam sido ocupadas por um total de 108 acadêmicos, hoje, com o quadro completo, serão 145, portanto uma renovação de 37 confrades em 18 anos.
A fundação da Academia
Luís da Câmara Cascudo foi o criador da nossa Academia Norte-rio-grandense de Letras. Reproduzo as suas próprias palavras, no ano de 1949:
“Há treze anos, 9 de agosto de 1936, Aderbal de França e eu ficamos o domingo juntos, debatendo, escrevendo nomes dos futuros imortais e seus padroeiros. Acertamos mais ou menos a lista, original pela letra de Aderbal, em meu poder. Fui começando a conversar com as minhas vítimas. Umas riam. Pilheriavam outras. Um deles, humorista nato, perguntou se já havíamos contado com o testamento de Fortunato de Aranha, o nosso maior livreiro, e cujas iniciais coincidiam com as de Francisco Alves, padrinho da Academia Brasileira. Aceitavam, entretanto, a imortalidade que lhes oferecia. Todos os acadêmicos fundadores foram, sem exceção, convidados por mim. Em nossa casa, ou melhor, na sala e alpendre, fizemos as primeiras sessões preparatórias, acertando dois pontos iniciais e definitivos. Primeiro: eu jamais seria presidente da Academia; segundo: aceitaria a secretaria geral na primeira diretoria. … Finalmente, na noite de um sábado, 15 de maio de 1937, no Instituto de Música, declarou-se a Academia instalada regularmente e fiz as comunicações, desafogado da missão”.
Dessa forma o seu primeiro Presidente foi Henrique Castriciano, que tem como patrono Nísia Floresta. A cadeira número um coube a Adauto Câmara, patrono Padre Miguelinho. Cascudo ficou com a cadeira número treze, cujo patrono é Luís Fernandes.
Apesar de Cascudo referir a data de 15 de maio de 1937 como estando a Academia regularmente instalada, no Instituto de Música, a data da sua fundação é considerada 14 de novembro de 1936, ocasião em que foi lavrada a primeira ata.
Em 28 de novembro de 1936 o acadêmico Câmara Cascudo submete ao julgamento da Academia quatro propostas de lema, organizados pelo padre Luiz Monte, sendo o primeiro: Ad lucem versus; o segundo: Dúcitor in altum; o terceiro: Viteus lumi, sidera corpe; o quarto: Tellus premat artus, tráhant sidera vérticem. Depois de discutidos, é aceito o primeiro, que significa em direção à luz (rumo à luz, em busca da luz).
Somente na sessão de 27 de abril de 1938, após algumas modificações, foi determinada a relação dos 25 fundadores que escolheram os seus respectivos patronos.
O quadro da Academia seria aumentado para 30 membros em 22 de julho de 1943.
A nova mudança de estatutos ocorreria em 16 de março de 1957, no seu artigo segundo, que dispõe que a Academia ficará composta de 40 patronos, havendo assim um aumento de 10 cadeiras. Na reunião de 31 de março de 1957, foram votados os patronos, após breve discussão, se poderiam ser escolhidos nomes que já constavam da Academia Potiguar de Letras (APL). Após votação ficou definido que os eleitos seriam nomes que não figurassem na APL.
Em reunião realizada em 27 de abril de 1967, o presidente Manuel Rodrigues de Melo enfatizou que, “de acordo com o Regimento Interno da Academia, os candidatos eleitos tinham liberdade de escolher os seus patronos, motivo porque, concedia a palavra a qualquer dos presentes para a indicação do nome do seu patrono.”
Da construção da sede
Em reunião no dia 23 de janeiro de 1958, é comunicado que o prefeito Djalma Maranhão e a Câmara de Vereadores revalidaram a doação de terreno da praça Tomás de Araújo, ao mesmo tempo em que autorizaram a venda do referido imóvel para iniciar a construção da sua sede própria.
O presidente, Manuel Rodrigues de Melo, comunicou que havia feito proposta à Federação do Comércio do Rio Grande do Norte no valor de Cr$500.000,00 e havia recebido contraproposta do seu presidente, Jessé Pinto Freire, no valor de Cr$300.000,00, a qual, após algumas discussões, foi aprovada.
Reeleito presidente em 30 de janeiro de 1958, o acadêmico Manuel Rodrigues de Melo iniciou a construção, na rua Mipibu, 443, do prédio da Academia, com o apoio do Governador do Estado, Dinarte Mariz.
Em 27 de julho de 1963, sob a presidência de Manuel Rodrigues de Melo, os acadêmicos reuniram-se na Biblioteca do novo prédio. O presidente relatou sobre a construção. “O edifício de dois pavimentos está assim dividido: Térreo – biblioteca; museu de arte; auditório, compreendendo esse, por sua vez, teatro escola, cinema educativo, conferências etc.; secretaria, tesouraria, contadoria, discoteca e bar. Pavimento Superior – sala da presidência, sala dos acadêmicos e salão nobre, destinado esse exclusivamente às sessões públicas da Academia.”
Informou “que havia recebido 50% da subvenção de cinco milhões de cruzeiros, referentes ao exercício de 1962, colocados no orçamento pelo deputado Tarcísio Maia, tendo com esse dinheiro construído a grande placa de cimento armado do primeiro andar, levantando com o restante as paredes do mesmo.”
Lembrou “que a receita anual da Academia está limitada a Cr$170.000,00 do estado do Rio Grande do Norte, Cr$4.000,00 do município de Natal e o restante do governo federal, graças à boa vontade da nossa bancada na Câmara e no Senado, destacando, especialmente os deputados Tarcísio Maia e Mucio Bezerra.”
Informou “que para o exercício de 1963 possuímos no orçamento da República Cr$3.800.000,00 destinados à Biblioteca e Cr$1.800.000,00 destinados à construção, que somados aos 50% que faltam receber do exercício de 1962 perfaz um total de Cr$6.300.000,00.” Ao final convidou os acadêmicos para visitarem a obra.
Nos dias 5 e 6 de setembro de 1964, em solenidades oficiais, foi instalada a maior parte da Academia. As obras foram concluídas no governo de Aluízio Alves, que prestou todo o apoio necessário.
Características de algumas cadeiras
Sanderson Negreiros foi o último dos fundadores a falecer, ocupava a cadeira 40. Algumas cadeiras são pródigas em ocupantes:
. SEIS OCUPANTES – A 09 – Roberto Lima. 15 – Lívio Oliveira. Total = 02.
. CINCO OCUPANTES – A 02 – Humberto Hermenegildo de Araújo. A 08 – Gaudêncio Torquato, eleito. A 11 – Paulo de Tarso Correia de Melo. A 12 – Clauder Arcanjo. A 16 – Armando Holanda. A 20 – Jarbas Martins. A 24 – Sônia Fernandes Faustino. Total = 07
. QUATRO OCUPANTES – A 01 – Cláudio Emerenciano. A 04 – Cassiano Arruda Câmara. A 07 – Luiz Alberto de Faria. A 13 – Eulália Duarte Barros. A 19 – Marcelo Alves Dias de Souza. A 22 – Cônego José Mário Medeiros. A 23 – Iaperi Araújo. A 25 – Luiz Eduardo Suassuna. A 32 – Geraldo Melo, eleito. A 35 – Woden Madruga. A 36, no momento vaga, último ocupante José Augusto Delgado. A 38 – Benedito Vasconcelos Mendes. Total = 12.
. TRÊS OCUPANTES – A 03 – Daladier Pessoa Cunha Lima. A 05 – Manoel Onofre Júnior. A 06 – João Batista Pinheiro Cabral. A 10 – Dácio Galvão. A 14 – Armando Negreiros. A 17 – Ivan Maciel de Andrade. A 18 – Padre João Medeiros Filho. A 21 – Valério Mesquita. A 30 – Diva Cunha. A 31 – Leide Câmara. A 34 – Ivan Lira de Carvalho. A 37 – Helder Heronildes. Total = 12.
. DOIS OCUPANTES – Com apenas dois ocupantes temos as cadeiras 26 – Diógenes da Cunha Lima, 27 – Vicente Serejo, 28 – Jurandyr Navarro, 29 – Itamar de Souza, 39 – Marcelo Navarro Ribeiro Dantas e 40 – Geraldo Queiroz. Total = 06.
Completando 100 anos neste 2021:
MÊS DE MARÇO
DIA 9 – José Hermógenes de Andrade Filho NATALÍCIO 100 – CADEIRA 20
MÊS DE JUNHO
DIA 3 – João Wilson Mendes Melo NATALÍCIO 100 – CADEIRA 25
DIA 5 – Antônio Glicério FALECIMENTO 100 – PATRONO CADEIRA 23
MÊS DE JULHO
DIA 9 – Veríssimo Pinheiro de Melo NATALÍCIO 100 – CADEIRA 12
DIA 15 – Oriano de Almeida NATALÍCIO 100 – CADEIRA 13
MÊS DE AGOSTO
DIA 11 – Aluízio Alves NATALÍCIO 100 – CADEIRA 17
MÊS DE OUTUBRO
DIA 15 – Nestor Luiz Fernandes Barros dos Santos Lima NATALICIO 100 – CADEIRA 07
Homenagem especial:
Antônio Pedro Dantas, conhecido como Tonheca Dantas (18.06.1871 – 07.02.1940), patrono da cadeira 33 e que neste 2021 teria completado no dia 18 de junho 150 anos de existência. Teve como fundador da cadeira 33 Oswaldo de Souza e como sucessores Hypérides Lamartine – o nosso saudoso Pery e Carlos de Miranda Gomes o atual ocupante.
Natural de Vila de Carnaúba, município de Acari, foi compositor, regente e maestro. Tocava vários instrumentos como clarineta, flauta, trompete e violão. Autor da valsa Royal Cinema, que hoje é nome de rua no bairro Lagoa Azul. Tonheca Dantas também é nome de uma rua no bairro de Bom Pastor.
Quando da morte de Tonheca Dantas, disse Aluizio Alves: “Royal Cinema… A peça é consagradora do seu nome, evocando em acordes sonoros toda a tristeza da nossa raça, o farfalhar dos nossos arvoredos, a tragédia de nossas terras, valsa cheia de gemidos, de aboio, de suspiros, de realidade e de vida.”
PRESIDENTES DA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS
- Henrique Castriciano de Souza 11.1936 a 27.04.1938
- Antônio Soares de Araújo 05.1938 a 27.05.1943
- Juvenal Lamartine de Faria 05.1943 a 24.03.1949
- Paulo Pinheiro de Viveiros 03.1949 a 26.12.1949 – 2 mandatos
- Américo de Oliveira Costa 12.1949 a 31.12.1949 – Renunciou
- Edgar Barbosa 03.1950 a 22.02.1951
- Paulo Pinheiro de Viveiros 02.2951 a 13.01.1955
- Manuel Rodrigues de Melo 01.1955 a 30.01.1976 – 2° mais tempo
- Onofre Lopes da Silva 01.1976 a 13.07.1984
- Dom Nivaldo Monte 07.1984 a 08.11.1984
- Diógenes da Cunha Lima 11.1984 a ………………
Nosso atual Presidente que completou agora no dia 08 de novembro 37 anos de brilhante presidência.
Imortalidade
Sabemos que o conceito da imortalidade se fundamenta na lembrança sempre renovada daqueles que um dia ocuparam aquela cadeira. Isso nos remete a algumas citações:
“A imortalidade é certamente um sentimento agradável, especialmente enquanto a gente está viva.” – Theodor Herzl (1860 – 1904).
“Se a mortalidade da alma pode ser terrível, não menos terrível pode ser a sua imortalidade.” – Unamuno (1864 – 1036).
“A vida é pobre demais para não ser também imortal.” – Jorge Luis Borges.
“A imortalidade é a arte de se morrer em tempo.” – Sofocleto.
“A imortalidade reside na lembrança, sempre renovada, daqueles que já se foram. Paradoxalmente, ou por pura ironia, imortal mesmo é aquele que já morreu. Os que estamos vivos apenas garantimos uma promessa de sermos lembrados pelos que irão nos suceder.
Até quando?
A lista dos ocupantes de uma mesma cadeira vai crescendo, de tal forma que, em algum tempo, se tornará impossível ao novo sucessor homenagear a todos. O patrono, este sim, será sempre lembrado, embora jamais tenha sonhado com a imortalidade, pois nunca ocupou a cadeira que tem o seu nome.”