ACIDENTE FATAL COM RICARDO BOECHAT, AFINAL, HELICÓPTERO É VOO DE RISCO? –

Foi um choque a notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat em acidente de helicóptero, que precipitou sobre uma rodovia em São Paulo. A meu ver Boechat cativou um enorme público pela sua opinião isenta e, visivelmente, apartada de prioridades ou privilégios. Nas entrevistas era incisivo na crítica com sobejo fundamento e pertinência. Era admirado respeitosamente por quem havia inquirido com rigor. Deixará uma lição do fazer jornalismo, além de espírito público manifesto em seus variados programas nas diferentes mídias, tevê, rádio, jornal ou internet.

Por outro lado Boechat foi vítima de mais uma sequência de tragédias, contra as quais se batia pela busca de respostas. No seu derradeiro programa, criticou a impunidade que produz repetições de catástrofes que poderiam ser previstas e evitadas.

E o helicóptero? Afinal, é um transporte seguro, em que pese as notícias de tantos acidentes pela mídia?

Nesse ponto, teço breve explanação pessoal para chegar a melhor resposta à indagação anterior. Sou formado em Letras pela Universidade de Brasília há algumas décadas. No passado exerci o mister de controlador de voo e piloto civil, após curso na escola de cadetes da AFA. Também exerço a função de revisor profissional de textos e, nesta última década, estou na assessoria de revisão dos relatórios finais do CENIPA, que é o centro investigador de acidentes aeronáuticos do governo federal, exercido pela FAB.

Após exame de centenas de relatórios de acidente com helicópteros, e com base nas estatísticas havidas e confrontantes aos incidentes e acidentes, eu poderia arriscar que sim, que voar de helicóptero é um meio seguro de transporte de pessoas. Notadamente o tipo de helicóptero que está na cena do infausto acidente do Boechat: o Bell Jet Ranger, em voo há mais de quatro décadas no Brasil.

Do acidente em tela, em que pereceram o piloto Ronaldo Quattrucci e o âncora Boechat, nada se pode concluir de forma terminativa, pois o processo investigador pelo Cenipa está em curso inicial. Em um panorama geral acerca de acidentes com helicópteros podemos tecer uma suma estatística.

Pelo site do Cenipa, atendendo à demanda por informações, os interessados podem absorver dados disponíveis, por meio do Sumário Estatístico de Helicópteros. Na mesma página do órgão brasileiro de prevenção e investigação de acidentes aéreos, lê-se resumida nota da Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe) em que enuncia ser o Brasil um dos maiores operadores de helicópteros do mundo.

Da mesma forma a ANAC fez divulgar esta semana (11/02/2019) que há 2119 helicópteros registrados no Brasil, e que, em 2018, houve 21 acidentes desse tipo de aeronave que constam dos relatórios. Dessas ocorrências, foram sete acidentes graves com 24 mortos, sendo que a média de fatalidades relacionadas a helicópteros para os últimos dez anos resultando na conta de 14,4 ao ano. Se elevarmos os números estatísticos para a aviação em geral, biênio 2017/2018, pode-se destacar a marca de 1 acidente para 1.3 milhão de voos.

O modelo de helicóptero B06, Bell 206B Jet Ranger II, monomotor à turbina, há muitos anos considerado o helicóptero mais seguro do mundo, por pilotos e organismos de safety, ele próprio muito utilizado em voos de salvamento de risco e até em combate a incêndio, exatamente é o tipo de transporte que vitimou Ricardo Boechat.

Lembro-me de um amigo, o comte Nascimento, da antiga Votec, que fez o famoso voo dentro do túnel do Pasmado, no Rio, no conhecido filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, de 1968, faleceu recentemente, já idoso, após dez mil horas de voo, boa parte em asas rotativas.

Para concluir, pode-se afirmar que voar de helicóptero é bastante seguro. Já há tempos no meio da aviação se diz que dos veículos aéreos o helicóptero só fica atrás do avião. Que o helicóptero só rivaliza em termos gerais em qualidade de segurança com os elevadores, que vive em monótono sobe e desce, e com o metrô; no entanto, voar é bem mais fascinante e divertido do que estes.

No mais, lastimam-se os admiradores de Boechat, pois ficou a marca inconfundível de um inegável profissional da opinião, deixando verdadeiras aulas de humor e cidadania, que a todos contagiava. E certamente já deixando saudades nas manhãs da telinha mágica!

 

Luiz SerraProfessor e escritor
 As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *